sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Sem amor, nada serei



Hoje é Natal. Ontem foi uma noite agradável, de comunhão com a família, troca de presentes, preces e votos de Feliz Natal. Engraçado que o dia 25 é meio morto, embora seja este o verdadeiro dia de Natal, o verdadeiro dia pelo qual estamos em casa (alguns não), descansando e curando a ressaca.
Eu não quero ser uma daquelas pessoas hipócritas, que passa o ano inteiro sendo egoísta, descrente, não solidária, mas quando chega em dezembro, parece o pai dos pobres. Eu prefiro ser o que sou hoje, amanhã e sempre. Sem demagogia.
Este ano tem sido um bom ano em termos de mudanças pessoais. Serinho, eu tive muitas fases, mas posso dizer que a fase atual tem me trazido uma paz que eu não tinha há muito tempo: a paz interior.
Cara, como é difícil você ter paz interior. Acho que é superfácil você vestir a fantasia de pai dos pobres, dar esmolas, fazer um trabalho voluntário, doar o que você não quer mais. Tem gente para receber isso. Muita gente alías. Mas eu acho que é muito mais difícil você alcançar a paz interior, aquela paz que te dá força pra continuar vivendo.
Este mês houve um lance supertriste que foi o suicídio da Leila Lopes. Para mim, o suicídio é o ato mais covarde que uma pessoa pode cometer. Sério, isso não é coragem, isso não é bonito. Coragem é viver, não morrer. Acabar com a própria vida não é difícil. Há prédios altos, venenos eficazes, armas letais. Viver é que é difícil. É tanta coisa que a gente passa na vida! Problemas de saúde, desemprego, desamor... Isso é que é barra meu amigo! E se você não tem coragem suficiente para passar por tudo isso, tire sua própria vida, porque viver é enfrentar cada dia um obstáculo diferente.
Então é Natal. A festa cristã. E não cristã também, porque nessa hora todo mundo é irmão. O cara que bate tambor é irmão do cara que lê a Bíblia. Eu não tenho uma religião assim definida. Eu acho até que não acredito numa religião. Eu acredito no amor, na força desse sentimento maior que nos une.
Eu gosto muito da Bíblia. Eu não tenho uma, porque hoje tudo é online, então quando eu penso em um versículo, vou lá e leio. A Bíblia para mim não é um livro cheio de "faça isso", "faça aquilo". A Bíblia para mim é uma válvula de escape, é um salva-vidas quando eu estou me afogando no mar da vida. Ela sempre me salva. A fé sempre me salva.
Nego tem um preconceito danado de dizer que lê a Bíblia. Mas tem cada coisa bonita lá... Não há como ser triste, deprimido e infeliz se você pode abrir aleatoriamente uma página da Bíblia e ler qualquer versículo, principalmente os salmos.


Saca o Salmo 23:



1O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.
2Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranquilas.
3Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.
4Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
5Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice transborda.
6Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

Um dos meus preferidos é Coríntios 13:





















1Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.
2E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
10mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
11Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
13Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

Sigo em frente a todo tempo com esses pensamentos toda vez que estou na deprê, que penso que sou a maior infeliz desse mundo, naquele momento "Meu mundo caiu", eu penso que não há porque ter medo, não há porque ficar infeliz, desejar o mal para si ou para os outros, porque "no fim tudo dará certo, se ainda não deu certo, é porque não chegou ao fim".
Então, para este Natal, e para todos os outros, desejo as pessoas que possam todos alcançar a paz interior, que todos possam seguir sempre em frente, enfrentando as crises, as deprês sem desanimar, acreditando que não há porque temer, o futuro -- a frase é batida, mas é verdadeira -- só a Deus pertence.

FELIZ NATAL 

sábado, 28 de novembro de 2009

O crepúsculo editorial

Ontem eu assisti à ótima, porém curta, entrevista de Stephenie Meyer no programa da Oprah. Surpreendi-me com a simplicidade da autora do megasucesso mudial Twitlight (Crepúsculo) e com as várias mensagens importantes que, implícita ou explicitamente, ela transmitiu.
















A primeira conclusão a que eu cheguei foi que os jovens, não só do país de origem da autora, mas em todo o mundo, estão se interessando muito mais pela leitura. Não importa o que nós, adultos céticos e cheios de frescuras intelectuais, achamos. A importância de fenômenos com as sagas Crepúsculo, Harry Potter, Senhor dos anéis, O diário da princesa, e, no Brasil, Fala sério, Querido diário otário etc, é evidente para a reconstrução do hábito literário em jovens que estão às voltas com o mundo de 140 caracteres. Chega a impressionar o número de semanas que esses livros estão nas listas de mais vendidos. Mas tudo isso não se deve a uma questão puramente de negócios, obviamente. Mas eu me surpreendo que, por mais que todo mundo encha a boca pra dizer que o jovem de hoje só quer saber de internet e games, eu sempre vejo garotos e garotas de 11, 13 anos lendo um enorme livro nos ônibus, no metrô, nos bancos de escola... 


Claro que esse estímulo em grande parte veio da internet, do boca a boca que se faz na rede. Isso porque, a meu ver, os pais de hoje não estão estimulando a leitura como faziam antigamente. Ninguém mais tem tempo para nada! E a partir dessa falta de estímulo dos pais, eu me pego pensando se vale a pena, hoje, as editoras ficarem jogando dinheiro fora investindo em literatura adulta quando esse público mal tem tempo para ler bula de remédio.
Eu, na minha parca experiência editorial de apenas sete anos, na coisa operacional mesmo, produzindo, vejo que o adulto de hoje não se interessa mais por literatura. Eu vejo a galera da minha idade toda voltada para twitter, orkut, pros blogs até... Eu acho que esse é um campo aberto pra gente de 25 a trinta e poucos anos. Para os mais velhos, pais de família, vejo só jornais, revistas semanais...
Minha mãe era leitora assídua de grandes romances, estilo E o vento levou, O retrato de Dorian Gray... Pergunto o que ela lê hoje e a resposta é: "Minha filha, não tô nem enxergando direito... Prefiro ver TV." E ela tem apenas 50 e poucos anos.
Os grandes romances de hoje são os mesmos, mas a gente prefere acreditar que são blockbusters, porque não interessam mais para nossa faixa etária, para nosso nível intelectual (rs). Aí eu vejo um bando de editores publicando coisas que foram sucesso um dia, mas que já deu o que tinha que dar. Ninguém inova nessa joça! E dá-lhe Paulo Coelho na ideia! Claro que vende, Paulo Coelho vai vender até morrer. Mas eu tô sentindo uma falta enorme de coisas novas.
O Crepúsculo foi uma coisa nova, inaugurou uma nova era. A era das sagas, das trilogias, do suspense para a próxima edição. Isso alimenta a nossa imaginação, será que os editores não percebem isso? Não percebem que o jovem é o grande trunfo do mercado, que o jovem quer ler sim, e quer suspense, conteúdo, forma, correção...
Podem me jogar pedras, mas eu adoro a Intrínseca. Eu acredito que é uma editora que tem uma proposta jovem, uma cara jovem. E é esse o alvo de hoje.
Fora isso, tem outra questão que me vem à cabeça, influenciada pela S. Meyer: os editores não querem dar chance a novos autores. Isso é algo das antigas... S. Meyer foi rejeitada uma série de vezes antes de conseguir publicar seu livro. E por quê? Porque, a meu ver, fica todo mundo disputando velhos autores, velhas fórmulas que já não interessam a mais ninguém.
Eu acredito na urgência em se prestar atenção aos novos autores, à essa galera de blog, que sonha, que tem uma imaginação superfértil e que não consegue entrar nesse mercado porque fica todo mundo olhando para o próprio umbigo, esperando velhos autores darem o ar de sua escrita. Tem muita S. Meyer por aí. Bobos são aqueles que não querem tirar os antolhos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A arte de ser feliz saindo do lugar





Muita gente acha que envelhecer não tem nenhuma vantagem. Eu até pensava assim quando tinha meus 28 anos, já que estava quase entrando na casa dos 30.
Com 32 anos, eu vejo o quanto eu avancei intelectual e emocionalmente em apenas dois anos. Foi fundamental para meu avanço todas as porradas que levei, todos os “nãos”, todos os esporros, todas as desilusões. Fato é que no momento em que passei por esses percalços, chorei como um gato no cio. Mas eu sempre pensei: “Eu vou sobreviver a isso.”
Eu simplesmente acredito que se nós, mulheres, sobrevivemos todo mês à menstruação, que é a pior coisa que podia acontecer a um ser humano, a gente pode sobreviver a um coração partido, à falta de dinheiro para comprar aquela blusinha, àqueles dias em que simplesmente seu cabelo não tem forma...
Toda vez que eu passo por um momento de decisão que vai me render um belo sorriso ou um rímel borrado, eu penso: “O importante é dizer a verdade, aguentar as consequências e partir para o abraço.” Ainda que a decisão não tenha sido favorável para mim neste momento, pode ter certeza, e nisso eu boto minha mão no fogo, que mais para frente eu vou agradecer não ter acontecido aquilo que eu esperava.
Neste momento de “que merda, deu tudo errado”, o mais importante é sair da situação de cabeça erguida. É acreditar que eu fiz a coisa certa porque era aquilo que meu coração pedia. E quando o coração pede, querida... Não há cérebro que consiga impedir.
Parto do princípio de que problemas todos têm. Não há um único ser neste planeta, rico ou milionário, que não tenha um problema, seja financeiro, profissional, afetivo ou neurológico. O mundo despeja os problemas sobre nossas cabeças e nosso dever é enfrentá-los, nos armar de espadas, escudos, bolsas e derrotá-los. O negócio é partir com tudo para cima deles, sempre acreditando na vitória. Independentemente do resultado da nossa decisão — positivo ou negativo —, só o fato de ter tomado uma decisão já é uma vitória. A pior coisa do mundo é aquela pessoa que está sempre em cima do muro, não fode nem sai de cima, se acomoda com o que tem.
Um fato que contribuiu muito para essa nova fase, foi a recente viagem que fiz a Buenos Aires, minha primeira viagem para fora do país. Minha timidez nunca me permitiu grandes avanços em termos sociais, mas estando em um país estranho, fora do meu ninho, acabei aprendendo a me virar. Logo eu perdi a vergonha de falar aquele meu inglês macarrônico, aprendido a duras penas nos cursinhos; tentei falar espanhol, fazer mímica... Quando a gente tem que sobreviver, perde-se a timidez, perde-se a vergonha.
Então por que não pensar sempre que a gente tem que sobreviver? Por que não acreditar sempre que você tem que se virar, que você está só e precisa chegar em algum lugar somente com sua força de vontade?
Uma vez eu li que ser feliz é um estado momentâneo de espírito. Para mim isso é e não é verdade. Às vezes os momentos felizes acontecem sem que você tenha que se esforçar para isso: uma reunião familiar no Natal, a restituição do IR, um presente de aniversário, um lindo dia de verão... Mas, pode contar, a maioria dos momentos felizes da nossa vida só aconteceu porque a gente correu atrás deles, porque não ficamos paradas esperando que eles acontecessem, porque simplesmente nos movimentamos, saímos de uma zona de conforto.
Se a gente é quem faz nossos momentos felizes, eles não podem ser momentâneos, já que a gente tem potencial para que eles sejam eternos. Eu estourei minha bolha. Eu saí do closet para experimentar o mundo. Tô aí nas quebradas, mano. Tô na pista pra negócio.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quando uma merda que você faz se torna um bem que você guarda



Eu geralmente era pessimista para quase tudo na minha vida. Numa entrevista de emprego, eu sempre ficava olhando para as candidatas à vaga, assim, de soslaio, e ficava reparando na roupa delas, na cara de experiente delas, na cara de UFRJ delas... Depois olhava para mim... Bolsinha do camelô, roupinha da C&A, Faculdade Gama Filho. Eu tinha tudo para me dar mal. Não vou dizer que sempre me dava bem para agradar ninguém não. Eu me dava mal mesmo.
Mas a minha hora chegava; tardava, mas chegava. Em 1998, fiz uma prova para estagiar na Petrobras, concorri com gente da UERJ e da UFF, com as patricinhas de all star da PUC e as nerds da UFRJ. Eu era a única oriunda de faculdade particular, paga a duras penas pela minha tia. Na hora do teste, que era uma entrevista com um figurão da companhia, todo mundo ficava lá falando, dialogando, se comunicando, puxando o saco do cara... E eu no meu cantinho, só fazendo o brainstorm. Placar: Fernanda 1 x UERJ, PUC e UFRJ 0.
Eu fico pra morrer quando as pessoas dão muito ibope para os tagarelas. Eu acredito que todo mundo tem o seu valor. Eu sou tímida à beça, mas tenho pontos de vista sólidos e uma criatividade imensa, mas muitas vezes não sou valorizada ou sou derrubada pelas pessoas mais loquazes. Porém, como eu disse, existe um lugarzinho ao sol pra todo mundo.
Voltando à questão original deste post, eu fiz pouca merda na minha vida. Até porque eu sempre tive vergonha de fazer merda na frente dos outros. Hoje em dia, o fato de eu ter feito pouca merda me estimula a jogar toda a merda acumulada em 32 anos de vida certinha no ventilador. É que eu ando muito sem-vergonha ultimamente.
Quando a gente é criança todo mundo acha bonitinha a nossa sinceridade, a nossa franqueza. A criança diz que a comida da avó está horrível, que a mãe é gorda, que o lugar é chato... Mas, com o passar dos anos, uma mordaça nos vai sendo colocada em nome da moral e dos bons costumes. Feito isso, nunca em sua vida você vai dizer na cara da sua sogra que ela é uma megera horrorosa.
Esta semana eu usei de toda a minha franqueza para resolver um assunto que me incomodava há um ano mais ou menos. Claro que eu tomei uma(s) vodka(s) antes, mas falei. Foi com a voz mole, o andar vacilante, a cara amarrotada, mas falei.
Não me arrependo do que fiz, ao contrário, tenho certeza de que fiz uma grande coisa. Talvez quem ouviu o que eu tinha a dizer não tenha ficado tão confortável, mas eu estou tão absolutamente limpa por dentro que agora tem espaço para colocar outras merdas.
A grande questão é que a gente não se dá conta de quantas coisas a gente acumula, e aquilo vai apodrecendo nossa alma e ocupando espaço de coisas que realmente valem a pena ou que vão se concretizar. Quanto tempo eu perdi fazendo conjecturas, imaginando o que poderia acontecer ou que determinado sinal era ambíguo, e eu não percebia o que estava acontecendo a minha volta, eu não via quantas coisas interessantes estavam ao meu redor porque eu só conseguia olhar em uma direção. Eu estava usando os antolhos do medo para me proteger e acabei perdendo outras oportunidades.
Chegar a esse estágio foi dolorido, espero até que não tenha me valido uma amizade. Sinceramente espero que não. Mas vendo pelo lado positivo, o meu, é claro, eu estou realmente aliviada, como se eu tivesse nascido de novo e o mundo fosse um novo jardim a ser explorado.
Depois desse episódio na novela da minha vida, decidi ser sempre sincera, no melhor sentido da palavra. Muitas pessoas se autointitulam sinceras e francas, o que é uma balela se você pensar bem. Eu quero ser sincera não para impressionar alguém, mas para esvaziar a alma e preenchê-la de novos momentos e novas aventuras; para tirar o lixo, para aliviar o coração.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Deus: duas ou três coisas que eu sei sobre ele



Possivelmente serão duas ou três coisas mesmo. Não passei por tantos percalços que justificassem eu saber muito mais. Penso que quanto mais sofremos, mais aprendemos sobre Deus. Então, tirando algumas desilusões amorosas, problemas profissionais e financeiros, não tive nada tão doloroso que pudesse fazer com que eu aprendesse mais sobre Deus.
Primeira coisa
Ele existe. Por mais que eu tente não consigo ser ateia. Qualquer coisa que acontece em minha vida eu repito seu nome. Consegui algo que eu queria, “Graças a Deus”. Perdi ou não consegui, “Ajude-me, meu Deus”. Acreditar que existe um poder maior que o seu de mudar o rumo de sua própria história é muito confortador.
Eu gosto de associar a vida com um jogo de Lego. As peças estão espalhadas no início da nossa vida, colocadas por Deus ou o que seja que se acredite como uma força maior que o universo. Você vai montando, encaixando essas peças. Em dado momento, você teima em colocar uma peça que não se ajusta à outra, e com isso perde um tempo precioso, mas não há como demovê-lo dessa tarefa, só você pode se tocar de que está fazendo uma grande idiotice. Quando você se cansa de tentar fazer as coisas do seu jeito, pede ajuda. Então ele vem e faz você enxergar que está errado, que deve começar tudo de novo. Desmonte esse jogo. Espalhe suas peças. Recomece.


Segunda coisa
Nada é por acaso. Acredito que as situações da vida estão interligadas. Penso nas centenas de situações que aconteceram comigo, para o bem e para o mal, e percebo que tudo está ligado. Como no jogo de Lego, as peças se encaixam.
Tenho uma história pessoal para isso. Durante a faculdade, estagiei em alguns lugares, um deles foi a Revista Petrobras, onde comecei realmente a aprender a escrever e conheci algumas pessoas que me ajudaram a formar minha identidade profissional. Passei por outros lugares não menos significativos, todos úteis para aumentar minha bagagem profissional. No ano 2000, quando trabalhava no meu melhor emprego financeiramente falando, mas do qual eu não gostava, fui demitida junto com outros colegas por corte de custos... Não conseguia me imaginar sendo demitida de algum lugar. Senti a humilhação e o medo tomar conta de mim.
Dois anos se passaram e eu não tinha conseguido um emprego estável, apesar de muito procurar, já que sempre fui obstinada. Eu fazia freelas, estudava para concursos públicos, até passei em um. Porém, feliz ou infelizmente, apesar de eu ter passado em primeiro lugar, não me chamaram para a vaga (coisas que só a corrupção do nosso país explica). A revolta já estava tomando conta de mim quando eu pedi que “alguém” me ajudasse, me fizesse enxergar a luz.
A resposta veio perto do Natal de 2002. Eu comecei a trabalhar em uma editora pequena com um salário e um cargo igualmente pequenos em algo que eu nunca tinha feito em minha vida: revisão de textos.
Não me fiz de derrotada, aquela era uma porta aberta, uma oportunidade. Aprendi o que pude sobre o assunto e comecei a trabalhar. Resultado: trabalhei por seis anos nessa editora, que hoje já está mais crescida. Aprendi a fazer de tudo um pouco, já que não havia tantos profissionais envolvidos com a produção, justamente por ser uma editora pequena. Eu sabia revisar, diagramar e fazer capa; eu pedia orçamento, batia provas, ajudava na escolha de títulos e tinha a confiança de meu editor, que é um homem bastante rígido (e agradeço muito por isso). Porém, eu andava insatisfeita com o salário, que não era ruim, mas eu esperava mais. O fim provisório dessa pequena história (provisório porque a vida continua e eu não sei como será o amanhã) foi que, com esse trabalho em uma editora pequena, que me pagava um pequeno salário no início da minha ainda curta carreira, consegui dar continuidade ao meu trabalho em uma empresa maior, onde hoje aprendo outras coisas que também servirão para um futuro ainda melhor.
Com tudo isso eu quis dizer que, na vida, não se deve menosprezar os pequenos trabalhos, pois eles são a base, o alicerce da vida. Eles darão a experiência necessária para alcançar um lugar mais alto. Fora isso, também é necessário não desperdiçar o tempo em que se está no suposto “ócio”, com atividades que não vão levar a lugar algum. É preciso foco, persistência e fé para acreditar que se pode vencer nesse jogo, que não se trata de um carma ruim, mas apenas de uma situação ruim. Não existe acaso, destino ou sorte. Existe trabalho e fé. Só isso basta.


Terceira e última coisa
Não teria sentido. Não há porque estarmos neste planeta complexo, repleto de seres de todo o tipo, bons e maus; sábios e ignorantes; ricos e pobres; doentes e sãos, se não é por alguma razão. Eu me pergunto “pra quê?” Para que criar céus e terras, animais e plantas, humanos e não tão humanos para, ao final, tudo virar pó e ser comido por vermes.
Acho um desperdício de energia. Não posso crer que a gente morre e tudo acaba. Não posso crer que exista apenas uma alma vestida com o meu corpo e depois esse corpo se deteriora e não haverá mais nada. Não restará uma lembrança, um suspiro do que um dia eu fui.
Também não posso crer que Deus seja tão criativo e que tenha tanto lugar no céu, no purgatório ou no inferno para abrigar tantas almas, já que só se vive uma vez. Não, isso definitivamente não entra na minha cabeça. Não faz sentido.

Feliz ou infelizmente não há como saber se ele existe mesmo, se essa força superior realmente nos protege e nos aguarda. Mas é um alívio saber e acreditar que posso contar com ele(a) em todos os momentos da minha vida. Conforta-me saber que posso conversar com ele(a) na hora que eu puder e quiser e que sempre irá me ouvir, independentemente se meu assunto é bobo, incompreensível, injustificado, mimado ou medíocre. Ele(a) me ouve, me compreende e me atende. Não há como não acreditar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que a boca fala, o corpo não escreve


Quando adolescente, eu sonhava ser psicóloga, ou qualquer outra profissão que me levasse ao estudo da mente e do comportamento humano (talvez escritora de livros de autoajuda). Tenho verdadeiro fascínio pelos enigmas do cérebro, pelo inconsciente. Em meus 18, 19 anos, época em que me tornei rebelde, como qualquer menina saudável na minha idade, eu lia um livro por semana. Mas eu não curtia os clássicos ou romances, eu gostava de livros sobre os anos 1970, sobre a ditadura, sobre a contracultura; as artes, a filosofia, a psicanálise, a sociologia, o socialismo... Gostava de Freud e Jung; Marcuse e Weber.
Eu tinha o hábito de anotar em cadernos frases, ou até mesmo parágrafos inteiros desses livros, para depois rever os conceitos. Por que, claro, os livros não eram meus, eu não tinha grana para comprar, nem para tirar xérox. Ainda guardo alguns cadernos, entre agendas, papéis de bombom Serenata de Amor, pétalas de rosas, cartinhas e letras de música.
A paixão por todos os ícones setentistas passou logo que ingressei na faculdade de Comunicação (deveria ter aumentado, mas logo eu tinha outros interesses). Porém, a fascinação pelo comportamento humano, pelos mistérios da mente continuou muito forte, venceu o tempo, e vive até hoje. Ainda não resisto em dar uma olhadinha nas novidades sobre o assunto. Apesar de muitas vezes serem confundidos com literatura menor ou, pior, com charlatanismo, alguns textos cruzam essa fronteira e vão mais além. Não tenho nenhum livro específico para citar, mas há um estudo especial nessa área que atualmente tem me feito voltar àquela adolescente ávida por conhecimento.
Há alguns meses, me peguei estudando o comportamento de certo rapaz. Não entrarei no mérito de porque eu estava estudando o comportamento dele... Não hoje. (Espero que ele não esteja lendo isso. Não, não estará.) Na verdade, eu estava pensando em como algumas coisas são contraditórias entre o agir, o falar e o pensar. “Falar é fácil”, é uma expressão muito simples. É fácil falar sim. O difícil é agir de acordo com o que a boca expulsa.
Fico intrigada com o cérebro humano porque muitas vezes a gente fala uma coisa por falar ou para esconder a nossa intenção real. E é essa última questão que me faz pensar. Procurei na internet algumas teorias sobre isso, sobre o que a boca fala e os gestos desmentem. Encontrei a Body language, ou a linguagem corporal. Resumindo, o corpo dá alguns sinais não verbais (gestos, ações) que podem identificar as reais intenções de alguém; aquilo que está em seu inconsciente e, por alguma razão (timidez, medo...), não vem à tona em forma de palavras. Descobri alguns movimentos corporais já bastante batidos, como mão na boca significando mentira, cruzar os braços significando que não quer se comunicar etc. Mas não dá para generalizar e pensar que uma coceira na boca é sinal de que alguém está mentindo, porque há outros fatores, como o meio e a cultura, que modificam uma postura.
A questão toda é que eu banquei a sabichona e me ferrei de verde e amarelo, algumas vezes em que segui minha lógica, quase natural, de estudar o comportamento das pessoas enquanto elas falam comigo. Enganei-me várias vezes e continuo me enganando. Recentemente, ouvi de uma psicóloga: “muito interessante você ter observado que fulaninho não parava de olhar para o relógio enquanto conversava com você, mas isso pode significar não somente que ele estava com pressa, mas que ele estava ansioso para que alguma coisa legal acontecesse.” (Pior que não aconteceu, porque eu fiquei pensando se eu ia levar um fora ou não... Ops, mas esse não é o misterioso rapaz...) Mas eu sigo com a certeza de que há 50% de acerto, pelo menos nos sinais mais comuns. Obviamente, eu só estudo o comportamento de quem me interessa, porque eu tenho o péssimo hábito de “sair de órbita” quando alguém desinteressante vem me falar algo igualmente desinteressante (que é só o que pessoas desinteressantes podem fazer). Mas essa é outra história, que rende outro post (e que eu também andei pesquisando. É eu estou meio sem ter o que fazer aos domingos).
EM TEMPO: Dia 29/09 estreia na Fox a série Lie to me, exatamente sobre isso! Estou ansiosa para ver.


sábado, 12 de setembro de 2009

Shopaholic, embalagens e conteúdos

Nesta tarde de sábado um pouco melancólica, resolvi assistir um filminho pipoca só para distrair a mente que teima em vagar por pensamentos às vezes não tão agradáveis. Sem preconceitos, assisti à Confessions of a shopaholic. Bobo, sim. Polêmico, talvez. Trata-se da história de uma garota viciada em compras. Especificamente roupas, sapatos, bolsas e acessórios. Rebecca Bloomwood não resiste a uma vitrine. Mas ela não tem grana suficiente para pagar as dívidas que contraiu em seus 12 cartões de crédito. Depois de perder o emprego de jornalista em uma revista de jardinagem, Rebecca fica desesperada para conseguir um novo emprego, desta vez em sua revista favorita de moda. Afogada em dívidas e tendo que mentir para seus credores, Rebecca acaba sendo contratada por uma revista de economia, assunto que até então ela achava que não dominava. Escrevendo para uma coluna sobre finanças muito pessoais, ela acaba gastando o salário inteiro em um único vestido. A partir daí várias situações tragicômicas acontecem até que ela finalmente consegue entender que é viciada em compras e busca ajuda.
Realmente o filme me distraiu, mas também me fez pensar em mim mesma e em várias outras pessoas que conheço. Mulheres viciadas em compras que simplesmente não conseguem ver isso como uma doença, um mal moderno capaz de se igualar ao vício de qualquer droga ilícita em se tratando de estragos psicológicos, financeiros e sociais.

Nunca fui uma shopaholic de carteirinha, dessas que se atolam em dívidas astronômicas. Mas eu sempre via meus planos de uma viagem internacional, uma poupança para o futuro, um curso para impulsionar a carreira se esvaindo a cada passada dos meus dois cartões de crédito. Como Rebecca, eu comprava coisas pela simples vontade de ter aquilo que eu via brilhando em uma vitrine dentro do meu armário. Eram coisas das quais eu realmente não precisava. Mas por que eu comprava?
Quando era criança, meu sonho era ficar trancada no shopping e ter todas aquelas coisas maravilhosas só para mim, pelo menos por um dia. Quando fiquei adulta e totalmente vaidosa, eu queria ter todas aquelas coisas para sempre. Meu primeiro salário eu gastei no shopping. Sapatos, bolsas, roupas... Afinal, eu precisava me vestir bem para a minha nova fase na vida. Várias outras fases depois, o cartão de crédito corria solto entre as diversas lojas do shopping. Para cada ocasião, uma roupa, uma bolsa, um sapato, vários acessórios.
E assim foi até que as faturas dos cartões chegaram a um valor maior do que eu poderia pagar. Desespero total! Promessas e mais promessas depois e um bom (mas injusto) acordo com a operadora do cartão, consegui quitar e cancelar um dos cartões. Ainda tenho outro, mas a meta é quitá-lo também.
A grande questão disso tudo e razão deste post é que por que a nossa vida ficou tão vazia a ponto de termos de preenchê-la com delírios consumistas, verdadeiros vícios que nos levam ao fundo do poço e a gente teima em dizer que não é vício, são só umas "comprinhas". Por que comprar coisas de que você não precisa? Por que ter 10 bolsas pretas? Por que ter um armário de sapatos? Se estou chateada, eu compro. Se estou alegre, eu compro.
Eu tenho um hábito, comum na minha profissão de jornalista e produtora, de, antes de escrever algo, pesquisar a fundo sobre o tema, verificar a opinião dos especialistas no assunto, esgotar todas as possibilidades de argumentos. Porém, em meu blog, nesta válvula de escape virtual, eu não presto atenção ao que os especialistas dizem porque, em se tratando da minha vida, a maior especialista sou eu. Por essa razão, eu tenho as minhas próprias teses sobre os meus assuntos. E a minha opinião para o fato de eu ter quase me tornado uma shopaholic (e ainda ter resquícios disso) é que a ditadura da beleza e do ter, em vez de ser, estava completamente enraizada em minha vida - assim como na de várias outras pessoas.
Por mais que a gente não queira fazer parte dessa sujeira, não há como escapar. Eu quero fazer parte, eu quero ser como todo mundo é. Apesar de levantar a bandeira da originalidade, é praticamente impossível ser uma pessoa completamente original, se tudo o que temos são cópias. Cópias do que vimos nas revistas, nas novelas, nas artes, na tecnologia. Não há escapatória.
Mas há o bom senso. Há uma voz, um suspiro de inteligência que pede para você parar. Pede para você enxergar o mundo com outros olhos. Pede para você se enxergar com outros olhos. Nada é mais importante do que ser. Ser você mesma, uma pessoa única e original entre tantos clones modernos. É difícil se livrar do invólucro. Você acaba se tornando apenas uma embalagem sem um produto dentro. E na tentativa de agradar os outros com a embalagem, o conteúdo vai se esvaindo, até chegar a um ponto em que ele desaparece, e você passa a ser completamente oca. Eu não queria ser só uma embalagem. Eu queria abrir essa embalagem e retirar o conteúdo. Um conteúdo que até então era totalmente desconhecido, camuflado por seda, couro, ouro 18 e algodão.
A cada dia eu descubro mais uma utilidade desse meu conteúdo. Descubro que ele não é tão frágil quanto eu pensava, que não se quebra diante do primeiro tombo, do primeiro fora, do primeiro tapa com luvas de pelica. Tudo bem, ele dá uma balançada, porque às vezes venta. Mas logo está firme, pronto pra outra, porque eu sei que ele não vai me abandonar na hora em que for realmente necessário e admirado. E eu tenho orgulho de carregar meu conteúdo. Ele é mais brilhante que qualquer gloss, mais caro que uma bolsa Prada, mais perfumado que Victoria's Secret, mais valioso que qualquer joia. Ele não fica puído, nem rasga. E estará sempre comigo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Me, myself and I


Feriadão de 7 de setembro, segunda-feira. Uma busca desesperada por "descanso" começou logo na sexta-feira, para alguns já na quinta. Engarrafamentos na cidade e nas estradas para regiões mais afastadas. Loucura na rodoviária e nos aeroportos. Região dos Lagos lotada, não importa se há nuvens escuras no céu, a praia está repleta de barracas e cangas estendidas. Conversas fiadas, bebedeira de fim de semana, dor de cabeça e ressaca. Uma casa de dois cômodos para 20 pessoas. Banheiros congestionados. Panelões de macarrão com carne moída no fogão. Depois, outra loucura para voltar para casa e começar mais uma semana.
Vejo essa cena como uma fuga louca da cidade, da casa que nos acomoda, do trabalho que nos sufoca e da nossa própria presença, às vezes feliz, e, no mais das vezes, solitária. Fugi disso dessa vez. Só dessa vez eu quis ficar comigo. Três dias da mais simples diversão, com a melhor companhia de todas: eu. Há tanta gente no mundo e tantas formas de se conectar a essas pessoas, é como se eu não pudesse ficar só. Só eu e eu.
Faço conexões com pessoas o dia inteiro. Acordo e ligo a TV para saber das primeiras notícias do dia, das condições do tempo e das rodovias. Pego um ônibus para o trabalho que logo fica cheio de pessoas pensativas, cansadas, com sono, falando em seus celulares, lendo seus jornais, ouvindo suas músicas. Chego no trabalho e mais pessoas. Elas digitam freneticamente nos teclados, trabalhando ou matando o tempo em suas redes sociais. Almoço: mais pessoas famintas por alguns minutos longe de seus desktops. A tarde corre, o chefe pede algo urgente, em cima da hora, tento me organizar para cumprir a ordem, já que um emprego legal e que pague bem não é fácil hoje em dia. Alguns minutos depois da hora de saída, deixo o trabalho, corro para pegar o primeiro ônibus, torço para não ter engarrafamento ou para ter algum amigo que ofereça carona... Droga, um trânsito horrível. Longa espera pelo ônibus lotado. Mais de uma hora depois estou em casa. Mal tiro os sapatos, o telefone toca. Duas horas de conversa com minha irmã sobre desventuras amorosas, problemas no trabalho, loucuras das amigas... Minha roommate pergunta se quero ver um filme e comer pipoca. Ok, por que não? Depois do filme, checagem geral: emails, twitter, orkut.Uma da manhã, finalmente vou dormir...
E tudo isso continua, é uma coisa sem fim. Às vezes, com algumas alterações, mas a essência é sempre a mesma. Então, nesse feriadão, decidi que eu não seria de ninguém, nem do trabalho, nem da minha irmã, nem da minha roommate, nem das amigas, nem de algum carinha, nem da internet. Eu seria só minha. Isso aí, passei o feriado fazendo coisas por mim. Eu tenho tempo para tudo, menos para mim. Não há tempo para ouvir o que eu quero dizer; para fazer o que eu quero fazer. Algumas vezes as pessoas são demais. Elas falam, cuspindo palavras pela boca. Você as ouve, dá conselhos, diz coisas maravilhosas que você mesma não faria.



A gente se desespera tanto por encontrar amigos, namorados, colegas; talvez nem todos estão realmente aí
para você. São outras pessoas na mesma situação: ninguém quer ficar sozinho. Eu fiquei sozinha nesse feriadão, enquanto todos viajaram ou procuram mais uma diversão barata que nos enche de alegria e cachaça todos os fins de semana. Diverti-me horrores comigo. Eu comi o que eu quis comer, bebi o que eu quis beber, paguei somente por aquilo que eu consumi, não rachei a conta. Eu assisti a todas as séries e filmes porcaria que eu queria assistir. Eu almocei Cheetos com Heineken. Eu fiquei acordada até as três da manhã fazendo o que eu queria fazer, indo aonde eu queria ir. Eu ouvi a minha voz, eu dei conselhos para mim, eu fiz promessas que espero cumprir. Espero ser leal comigo.
Não que eu não goste de estar com outras pessoas. Há pessoas que fazem da nossa vida uma festa ou um velório, todas têm o seu valor. Mas nesse feriadão eu queria estar comigo. E só. Eu queria saber de mim o que eu realmente quero, para onde eu estou indo e por quê. Descobri coisas fantásticas sobre mim, coisas que ninguém no mundo me disse, que ninguém nunca pensou. Descobri que eu não quero qualquer coisa, que eu não preciso de qualquer coisa. Eu não quero qualquer trabalho, eu não quero qualquer amigo, eu não quero qualquer namorado. Descobri que eu sou muito melhor do que eu imaginava, que eu tenho talento, um belo corpo, um papo legal. Talvez eu já soubesse disso, mas com tanta gente criticando ou elogiando - na melhor das hipóteses - a gente acaba não percebendo.


Eu mereço as coisas legais que acontecem comigo e não mereço as coisas não tão legais que acontecem pelo simples fato de que existe uma coisa que as pessoas falam e que parece bobagem: Eu não me achei no lixo. E por essa constatação tão óbvia, eu decidi fazer somente aquilo que realmente me faz feliz. Serei sincera comigo, e, por consequência, com os outros. Não vou mentir para agradar ninguém, não vou dizer que algo está ok, se não está. Não vou dizer eu te amo, se não amo. Não vou beber cerveja quente por que não tem mais gelada.
Esse feriadão foi o melhor do ano. Tenho certeza de que amanhã, quando eu voltar à rotina e todos estiverem falando do maravilhoso feriado longe da cidade e longe de si, eu estarei verdadeiramente satisfeita com os três dias de folga de tudo isso.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A nova rainha louca do Brasil

Depois do sumiço (e achado) do Belchior, voltei minha atenção para outra questão do universo internáutico: a pouca habilidade com o português da apresentadora/modelo (fotográfico e pornográfico)/rainha/celebridade/cantora Xuxa.
Criança, eu era mais que uma fã. Vestia-me como ela, dançava como ela e até cantava com a voz esganiçada como a dela. Certa vez, aos 9 anos, falei para minha mãe que queria pintar os cabelos de loiro ou comprar uma peruca, já com os lacinhos. Não me envergonho do passado, mas sinto vergonha pelo presente e pelo futuro.
Percebo que ainda existem muitos “baixinhos” que não cresceram e que persistem em seguir esta mulher. As crianças de hoje não dão o menor Ipobe para ela. Minha sobrinha de 9 anos, por exemplo, tem ídolos bem mais jovens e menos infantis como Hanna Montana, Jonas Brothers e Isa TKM.
Ainda assim, eu me pergunto o que há de novo em Xuxa para ela querer gravar um filme infantil, sendo ela idolatrada por pessoas da minha idade? Não sou especialista em sociologia ou antropologia, mas vejo que Xuxa agrada àqueles que, como ela, sofrem da síndrome de Peter Pan e evitam deixar a Terra do Nunca e encarar a dura e enrugada face da velhice.
A coisa pode ficar pior. Xuxa não só tem a idade mental de 12 anos, como também tem a idade escolar de 12 anos. Depois de tentar, sem êxito, superar as dificuldades de adaptação às ferramentas do twitter, a rainha louca desceu do trono e distribui desaforos aos seus súditos.
Li alguns blogs e outras matérias não muito confiáveis e fiz um balanço sobre as coisas que poderiam ser verdadeiras sobre o comportamento de Xuxa no twitter. Primeiro, sem o menor traquejo com o estilo usado na internet, Xuxa tuitava tudo em caixa alta. Avisada por seus seguidores de que digitar assim é como gritar com as pessoas, ela não entendeu bem o recado e disse que era bobagem e que aquele era seu “jeitinho” de escrever. Depois de outros foras, Xuxa resolveu ceder e aprender a ter educação digital: “eu adoro esse jeitinho, mas falaram tanta coisa feia q tô eu aqui de igual prá igual.” Como se ela fosse feita de outra matéria que não músculos, sangue e ossos. Claro que isso foi apenas o começo. Um xou de erros de ortografia levou seus seguidores às raias da irritação, que passaram a devolver o sentimento com várias piadinhas acerca da intimidade da rainha com o português. Xuxa distribuiu mais uma saraivada de foras com a fineza e a destreza que lhe são peculiares. A gota d’água foi sua herdeira, que tuitou que gravaria uma “sena com a cobra” no filme protagonizado pela mãe. Não só o erro de ortografia de Sasha foi criticado (que poderia ter sido perdoado e corrigido, em se tratando de uma criança), mas também a resposta de Xuxa, provando que a emenda saiu pior que o soneto: “pra quem não sabe minha filha foi alfabetizada em inglês, vou pensar muito em colocar ela pra falar com vcs, ela não merece ouvir certas m…” Depois de apagar o tweet da filha, ela ainda soltou mais uma pérola: “fui, vcs não merecem falar comigo nem com meu anjo.” Como diz Roberta Miranda, vá com Deus!
Li em algum blog que, como milhares de outros, descreveu a cena não tão insólita para o nível das celebridades, que esse episódio serviu para provar que as ferramentas da internet proporcionaram aos usuários uma arma poderosa para a crítica a tudo que os incomoda e que para o qual não se tinha oportunidade e canal para extravasar. No fim das contas, podemos expor aquilo que sentimos, a verdade nua e crua, que antes, como anônimos, éramos impedidos de dizer. Obrigada Xuxa, por abrir nossos olhos. Desejo que seja feliz bem longe daqui. Não está bom o tempo em Miami?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um macho contra-ataca


Acredito na liberdade de expressão, ou não teria feito jornalismo. Recebi um email que deveria ser um comentário sobre meu post "Eu, tu e quatro mano". Um rapaz (eu acho que era um rapaz) não concordou com algumas das minhas opiniões ao longo do texto.
Como eu ia dizendo, acredito em liberdade de expressão. Reproduzo (e respondo) o email de tão sincero e macho rapaz para que ninguém um dia diga que eu sou contra a voz das minorias:



CORRIDA CONTRA O RELÓGIO

Macho Man: Assim como a autora do texto, eu também me diverti com a tal “seqüência”. Contudo, cabem algumas digressões acerca de tal comédia. Dessa vez, serei econômico e nem tão mau assim.
Nanda: Caro Macho Man, "sequência", pela nova ortografia, perdeu o trema. Perdoo (sem circunflexo) você porque ainda não é obrigatório, mas como eu sou avant garde, já estou usando. Aviso: a partir do ano que vem você terá de se preocupar com isso.

Macho Man: A tal amiga “coitada”, que está na “situação” de “ser mulher, solteira, bem resolvida emocionalmente” e “separada” ainda pensa no ex-marido. Ressalte-se: será que Ela é mesmo bem resolvida emocionalmente?
Nanda: Minha amiga não é coitada, confesso que ela faz e fala muita merda como qualquer um de nós, mas não é nenhuma coitadinha. Acredito que ela pense no galinha do ex-marido sim, afinal eles namoraram durante séculos e casaram-se depois, e, em menos de um ano, o cara arrumou outra e se mandou. Isso é tão habitual... 

MM:
Decerto que a “seqüência” é engraçada, mas pelo próprio texto, se investigarmos, encontramos vários fios soltos. Por que a tal amiga quer dar o troco no ex-marido? Bem, foi dito que Ela é separada e bem resolvida. Entendo experiência da vida que Ela quer dar mais que “o troco” para o ex-marido. A vida ensina muita coisa.
N: Uma vez vi numa novela (isso é brega, mas é verdade) que a melhor vingança é ser feliz. Esse é o troco. Ao contrário das mal resolvidas, ela não foi fazer macumba na encruzilhada para o santo trazer o ex em 24 horas.

MM: 
Acerca do “dedo podre” e da idade, a tal amiga faz uma verdadeira corrida contra o relógio e teme perder tempo com os caras errados. Parece que Ela está agoniada.
N: Existe uma teoria que explica muita coisa sobre o relacionamento entre os animais, sejam eles racionais ou irracionais. Os machos estão em busca de quantidade porque acreditam ser importante espalhar sua herança genética por aí, ou seja, para os machos importa a quantidade. Já para as fêmeas, importa a qualidade, por isso elas escolhem seus parceiros e só engravidam daquele que julga ter o melhor código genético entre todos os outros.
Veja este textinho retirado do Usina das letras:


"Ao pular a cerca com fêmeas solteiras, os machos tem a certeza de que seus espermatozoides encontrarão óvulos ainda não fecundados, então ele tem a garantia de estar fazendo um investimento genético seguro. Mas, como a fêmea virgem é uma incógnita reprodutiva, está correndo o risco de encontrar uma fêmea estéril, o que significa entrar num beco sem saída, geneticamente falando.


Ao pular a cerca com fêmeas casadas, seus espermatozóides terão que competir com os espermatozóides dos maridos das amantes, pelos óvulos. Por outro lado, esses machos correm o risco de encontrar óvulos já fecundados, o que seria um investimento genético perdido. Em alguns pássaros, o macho que pula a cerca com fêmea acasalada, bica a cloaca da última, para que ela ejete para fora o esperma do macho anterior. Com isso está garantindo que SEUS espermatozoides e não do macho anterior vão fecundar os óvulos da fêmea. Além disso, pular a cerca com fêmeas casadas oferece a garantia de que os filhos que terão com a amante serão cuidados pelo corno. Mas também, ao pular a cerca com fêmea casada, o macho está correndo o risco de ser agredido pelo corno. É para isso que puseram chifres na cabeça dos cornos, para que eles pudessem atacar o rival ?

Fêmeas de animais preferem pular a cerca com machos casados, pois pode ter a certeza da qualidade genética do amante: se ele conseguiu parceira sexual é porque é macho geneticamente superior, portanto em condições de lhe fornecer os melhores espermatozoides.


Arrumar amante solteiro é arriscado, pois macho solteiro é uma incógnita genética e o fato de serem solteiros é sinal de que são geneticamente inferiores."


Dito isso, apelo para o instinto animal numa analogia com o ser humano: nós escolhemos demais e acabamos perdendo o time. E, embora muitas mulheres digam que não, a maioria sonha com um filho e também com um casamento harmonioso. Quanto mais o tempo passa, é mais difícil tudo isso se realizar. Pior: quanto mais o tempo passa, mais aumenta a concorrência rs.


MM: Será que Ela é a mulher certa? Será que Ela é tão bem resolvida assim. Parece-me que não, pois nem mesmo sabe como vestir-se sem parecer abobalhada ou pessoa idosa. Se Ela fosse tão bem resolvida, não ficaria tão preocupada com esse detalhe.
N: Só mesmo um homem para achar que uma mulher, por mais desprovida de beleza que seja, não se preocupa com a aparência. 

MM: Mais ainda, Ela vive no passado do seu casamento desfeito, pois ainda pensa em dar um “troco” no ex-marido. Por isso, Ela não consegue transcender e encontrar o tal “cara certo”.
N: O grande feito dela é não pensar no casamento desfeito, ela está tentando se recuperar. Ela não encontrou o cara certo porque está procurando nos lugares errados, é disso que trata essa história.


MM: Talvez o tal ex-marido tenha sido o cara certo e Ela só se deu conta agora. Por isso que Ela ainda pensa nele. De que adiantaria Ela encontrar o cara certo se Ela ainda está pensando no ex-marido? Quando Ela encontrar o cara certo, Ela nem vai se dar conta.
N: Definitivamente ele não era o cara certo. 


MM: Uma mulher linda e malhada nem precisa se esforçar muito para arranjar um par masculino. Talvez Ela esteja se esforçando demais na academia. Ou talvez não seja linda e malhada.
N: Pra vc ver como a concorrência é foda! 


MM: A Autora do texto ainda chega ao cúmulo de dizer que a tal “amiga” tem “dedo podre” para arranjar pares, assim mesmo no plural, vejamos: “A não ser pelo fato de ela sempre, sempre, mas é sempre mesmo, escolher os caras errados”. Tal afirmativa contém um traço de promiscuidade. Ela é mesmo a mulher certa? Por que Ela quer tantos homens?
N: Ela não quer tantos homens, ela está tentando achar o homem certo. Como vai achar se não procurar?


MM: O texto parece indicar que a tal amiga vive uma agonia por ter atingido os 30 anos de idade na condição de separada. Ainda não sei bem se essa seqüência é uma tragédia ou uma comédia.
N: Ambas as coisas.


MM: Cinco amigas solteiras e um homem gay. Definitivamente é uma tragédia. Desse jeito, os cara certos jamais aportarão a praia delas. Assim, essas “amigas” vão continuar se divertindo sem dó nem piedade, assistindo ao implacável relógio biológico dar voltas, desenvolvendo aquela noticiada paranóia de ver o útero parar de funcionar e os “melequentinhos” nunca virão. Os melequentinhos podem até vir, mas passearão no shopping com seus pais separados nos shoppings da Cidade. Que tragédia.
N: Qual é o problema de sair com um amigo gay? Ele é divertido, sincero e carinhosos. Você é tão preconceituoso... Nem sempre nós saímos para "caçar". A gente sai pra se divertir também.

MM: 
A diferença está em ser e parecer ser a pessoa certa. Que as “amigas”adicionem isso nos seus “emocionais bem resolvidos”.

N: Tentaremos, obrigada pela dica.

MM: Por fim, se não quiser encontrar um cara que saiba pelo menos falar inglês, não vá a um curso de inglês, ou vá a um curso de qualquer coisa, menos de inglês, pois lá, provavelmente, todos falam inglês. Ser emocionalmente bem resolvida é também saber se expressar.
N: Isso foi uma piada e eu não vou explicar uma piada. Existe uma célebre frase, que dizem ter saído da boca ou do papel de Millôr, que alega: "Idiota mesmo é o sujeito que, ouvindo uma história de duplo sentido, não entende nenhum dos dois." Se não entendeu, sorry, faça um curso de português.

MM: 
Por hoje é só.
N: Ainda bem, né?