sábado, 28 de novembro de 2009

O crepúsculo editorial

Ontem eu assisti à ótima, porém curta, entrevista de Stephenie Meyer no programa da Oprah. Surpreendi-me com a simplicidade da autora do megasucesso mudial Twitlight (Crepúsculo) e com as várias mensagens importantes que, implícita ou explicitamente, ela transmitiu.
















A primeira conclusão a que eu cheguei foi que os jovens, não só do país de origem da autora, mas em todo o mundo, estão se interessando muito mais pela leitura. Não importa o que nós, adultos céticos e cheios de frescuras intelectuais, achamos. A importância de fenômenos com as sagas Crepúsculo, Harry Potter, Senhor dos anéis, O diário da princesa, e, no Brasil, Fala sério, Querido diário otário etc, é evidente para a reconstrução do hábito literário em jovens que estão às voltas com o mundo de 140 caracteres. Chega a impressionar o número de semanas que esses livros estão nas listas de mais vendidos. Mas tudo isso não se deve a uma questão puramente de negócios, obviamente. Mas eu me surpreendo que, por mais que todo mundo encha a boca pra dizer que o jovem de hoje só quer saber de internet e games, eu sempre vejo garotos e garotas de 11, 13 anos lendo um enorme livro nos ônibus, no metrô, nos bancos de escola... 


Claro que esse estímulo em grande parte veio da internet, do boca a boca que se faz na rede. Isso porque, a meu ver, os pais de hoje não estão estimulando a leitura como faziam antigamente. Ninguém mais tem tempo para nada! E a partir dessa falta de estímulo dos pais, eu me pego pensando se vale a pena, hoje, as editoras ficarem jogando dinheiro fora investindo em literatura adulta quando esse público mal tem tempo para ler bula de remédio.
Eu, na minha parca experiência editorial de apenas sete anos, na coisa operacional mesmo, produzindo, vejo que o adulto de hoje não se interessa mais por literatura. Eu vejo a galera da minha idade toda voltada para twitter, orkut, pros blogs até... Eu acho que esse é um campo aberto pra gente de 25 a trinta e poucos anos. Para os mais velhos, pais de família, vejo só jornais, revistas semanais...
Minha mãe era leitora assídua de grandes romances, estilo E o vento levou, O retrato de Dorian Gray... Pergunto o que ela lê hoje e a resposta é: "Minha filha, não tô nem enxergando direito... Prefiro ver TV." E ela tem apenas 50 e poucos anos.
Os grandes romances de hoje são os mesmos, mas a gente prefere acreditar que são blockbusters, porque não interessam mais para nossa faixa etária, para nosso nível intelectual (rs). Aí eu vejo um bando de editores publicando coisas que foram sucesso um dia, mas que já deu o que tinha que dar. Ninguém inova nessa joça! E dá-lhe Paulo Coelho na ideia! Claro que vende, Paulo Coelho vai vender até morrer. Mas eu tô sentindo uma falta enorme de coisas novas.
O Crepúsculo foi uma coisa nova, inaugurou uma nova era. A era das sagas, das trilogias, do suspense para a próxima edição. Isso alimenta a nossa imaginação, será que os editores não percebem isso? Não percebem que o jovem é o grande trunfo do mercado, que o jovem quer ler sim, e quer suspense, conteúdo, forma, correção...
Podem me jogar pedras, mas eu adoro a Intrínseca. Eu acredito que é uma editora que tem uma proposta jovem, uma cara jovem. E é esse o alvo de hoje.
Fora isso, tem outra questão que me vem à cabeça, influenciada pela S. Meyer: os editores não querem dar chance a novos autores. Isso é algo das antigas... S. Meyer foi rejeitada uma série de vezes antes de conseguir publicar seu livro. E por quê? Porque, a meu ver, fica todo mundo disputando velhos autores, velhas fórmulas que já não interessam a mais ninguém.
Eu acredito na urgência em se prestar atenção aos novos autores, à essa galera de blog, que sonha, que tem uma imaginação superfértil e que não consegue entrar nesse mercado porque fica todo mundo olhando para o próprio umbigo, esperando velhos autores darem o ar de sua escrita. Tem muita S. Meyer por aí. Bobos são aqueles que não querem tirar os antolhos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A arte de ser feliz saindo do lugar





Muita gente acha que envelhecer não tem nenhuma vantagem. Eu até pensava assim quando tinha meus 28 anos, já que estava quase entrando na casa dos 30.
Com 32 anos, eu vejo o quanto eu avancei intelectual e emocionalmente em apenas dois anos. Foi fundamental para meu avanço todas as porradas que levei, todos os “nãos”, todos os esporros, todas as desilusões. Fato é que no momento em que passei por esses percalços, chorei como um gato no cio. Mas eu sempre pensei: “Eu vou sobreviver a isso.”
Eu simplesmente acredito que se nós, mulheres, sobrevivemos todo mês à menstruação, que é a pior coisa que podia acontecer a um ser humano, a gente pode sobreviver a um coração partido, à falta de dinheiro para comprar aquela blusinha, àqueles dias em que simplesmente seu cabelo não tem forma...
Toda vez que eu passo por um momento de decisão que vai me render um belo sorriso ou um rímel borrado, eu penso: “O importante é dizer a verdade, aguentar as consequências e partir para o abraço.” Ainda que a decisão não tenha sido favorável para mim neste momento, pode ter certeza, e nisso eu boto minha mão no fogo, que mais para frente eu vou agradecer não ter acontecido aquilo que eu esperava.
Neste momento de “que merda, deu tudo errado”, o mais importante é sair da situação de cabeça erguida. É acreditar que eu fiz a coisa certa porque era aquilo que meu coração pedia. E quando o coração pede, querida... Não há cérebro que consiga impedir.
Parto do princípio de que problemas todos têm. Não há um único ser neste planeta, rico ou milionário, que não tenha um problema, seja financeiro, profissional, afetivo ou neurológico. O mundo despeja os problemas sobre nossas cabeças e nosso dever é enfrentá-los, nos armar de espadas, escudos, bolsas e derrotá-los. O negócio é partir com tudo para cima deles, sempre acreditando na vitória. Independentemente do resultado da nossa decisão — positivo ou negativo —, só o fato de ter tomado uma decisão já é uma vitória. A pior coisa do mundo é aquela pessoa que está sempre em cima do muro, não fode nem sai de cima, se acomoda com o que tem.
Um fato que contribuiu muito para essa nova fase, foi a recente viagem que fiz a Buenos Aires, minha primeira viagem para fora do país. Minha timidez nunca me permitiu grandes avanços em termos sociais, mas estando em um país estranho, fora do meu ninho, acabei aprendendo a me virar. Logo eu perdi a vergonha de falar aquele meu inglês macarrônico, aprendido a duras penas nos cursinhos; tentei falar espanhol, fazer mímica... Quando a gente tem que sobreviver, perde-se a timidez, perde-se a vergonha.
Então por que não pensar sempre que a gente tem que sobreviver? Por que não acreditar sempre que você tem que se virar, que você está só e precisa chegar em algum lugar somente com sua força de vontade?
Uma vez eu li que ser feliz é um estado momentâneo de espírito. Para mim isso é e não é verdade. Às vezes os momentos felizes acontecem sem que você tenha que se esforçar para isso: uma reunião familiar no Natal, a restituição do IR, um presente de aniversário, um lindo dia de verão... Mas, pode contar, a maioria dos momentos felizes da nossa vida só aconteceu porque a gente correu atrás deles, porque não ficamos paradas esperando que eles acontecessem, porque simplesmente nos movimentamos, saímos de uma zona de conforto.
Se a gente é quem faz nossos momentos felizes, eles não podem ser momentâneos, já que a gente tem potencial para que eles sejam eternos. Eu estourei minha bolha. Eu saí do closet para experimentar o mundo. Tô aí nas quebradas, mano. Tô na pista pra negócio.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quando uma merda que você faz se torna um bem que você guarda



Eu geralmente era pessimista para quase tudo na minha vida. Numa entrevista de emprego, eu sempre ficava olhando para as candidatas à vaga, assim, de soslaio, e ficava reparando na roupa delas, na cara de experiente delas, na cara de UFRJ delas... Depois olhava para mim... Bolsinha do camelô, roupinha da C&A, Faculdade Gama Filho. Eu tinha tudo para me dar mal. Não vou dizer que sempre me dava bem para agradar ninguém não. Eu me dava mal mesmo.
Mas a minha hora chegava; tardava, mas chegava. Em 1998, fiz uma prova para estagiar na Petrobras, concorri com gente da UERJ e da UFF, com as patricinhas de all star da PUC e as nerds da UFRJ. Eu era a única oriunda de faculdade particular, paga a duras penas pela minha tia. Na hora do teste, que era uma entrevista com um figurão da companhia, todo mundo ficava lá falando, dialogando, se comunicando, puxando o saco do cara... E eu no meu cantinho, só fazendo o brainstorm. Placar: Fernanda 1 x UERJ, PUC e UFRJ 0.
Eu fico pra morrer quando as pessoas dão muito ibope para os tagarelas. Eu acredito que todo mundo tem o seu valor. Eu sou tímida à beça, mas tenho pontos de vista sólidos e uma criatividade imensa, mas muitas vezes não sou valorizada ou sou derrubada pelas pessoas mais loquazes. Porém, como eu disse, existe um lugarzinho ao sol pra todo mundo.
Voltando à questão original deste post, eu fiz pouca merda na minha vida. Até porque eu sempre tive vergonha de fazer merda na frente dos outros. Hoje em dia, o fato de eu ter feito pouca merda me estimula a jogar toda a merda acumulada em 32 anos de vida certinha no ventilador. É que eu ando muito sem-vergonha ultimamente.
Quando a gente é criança todo mundo acha bonitinha a nossa sinceridade, a nossa franqueza. A criança diz que a comida da avó está horrível, que a mãe é gorda, que o lugar é chato... Mas, com o passar dos anos, uma mordaça nos vai sendo colocada em nome da moral e dos bons costumes. Feito isso, nunca em sua vida você vai dizer na cara da sua sogra que ela é uma megera horrorosa.
Esta semana eu usei de toda a minha franqueza para resolver um assunto que me incomodava há um ano mais ou menos. Claro que eu tomei uma(s) vodka(s) antes, mas falei. Foi com a voz mole, o andar vacilante, a cara amarrotada, mas falei.
Não me arrependo do que fiz, ao contrário, tenho certeza de que fiz uma grande coisa. Talvez quem ouviu o que eu tinha a dizer não tenha ficado tão confortável, mas eu estou tão absolutamente limpa por dentro que agora tem espaço para colocar outras merdas.
A grande questão é que a gente não se dá conta de quantas coisas a gente acumula, e aquilo vai apodrecendo nossa alma e ocupando espaço de coisas que realmente valem a pena ou que vão se concretizar. Quanto tempo eu perdi fazendo conjecturas, imaginando o que poderia acontecer ou que determinado sinal era ambíguo, e eu não percebia o que estava acontecendo a minha volta, eu não via quantas coisas interessantes estavam ao meu redor porque eu só conseguia olhar em uma direção. Eu estava usando os antolhos do medo para me proteger e acabei perdendo outras oportunidades.
Chegar a esse estágio foi dolorido, espero até que não tenha me valido uma amizade. Sinceramente espero que não. Mas vendo pelo lado positivo, o meu, é claro, eu estou realmente aliviada, como se eu tivesse nascido de novo e o mundo fosse um novo jardim a ser explorado.
Depois desse episódio na novela da minha vida, decidi ser sempre sincera, no melhor sentido da palavra. Muitas pessoas se autointitulam sinceras e francas, o que é uma balela se você pensar bem. Eu quero ser sincera não para impressionar alguém, mas para esvaziar a alma e preenchê-la de novos momentos e novas aventuras; para tirar o lixo, para aliviar o coração.