segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que a boca fala, o corpo não escreve


Quando adolescente, eu sonhava ser psicóloga, ou qualquer outra profissão que me levasse ao estudo da mente e do comportamento humano (talvez escritora de livros de autoajuda). Tenho verdadeiro fascínio pelos enigmas do cérebro, pelo inconsciente. Em meus 18, 19 anos, época em que me tornei rebelde, como qualquer menina saudável na minha idade, eu lia um livro por semana. Mas eu não curtia os clássicos ou romances, eu gostava de livros sobre os anos 1970, sobre a ditadura, sobre a contracultura; as artes, a filosofia, a psicanálise, a sociologia, o socialismo... Gostava de Freud e Jung; Marcuse e Weber.
Eu tinha o hábito de anotar em cadernos frases, ou até mesmo parágrafos inteiros desses livros, para depois rever os conceitos. Por que, claro, os livros não eram meus, eu não tinha grana para comprar, nem para tirar xérox. Ainda guardo alguns cadernos, entre agendas, papéis de bombom Serenata de Amor, pétalas de rosas, cartinhas e letras de música.
A paixão por todos os ícones setentistas passou logo que ingressei na faculdade de Comunicação (deveria ter aumentado, mas logo eu tinha outros interesses). Porém, a fascinação pelo comportamento humano, pelos mistérios da mente continuou muito forte, venceu o tempo, e vive até hoje. Ainda não resisto em dar uma olhadinha nas novidades sobre o assunto. Apesar de muitas vezes serem confundidos com literatura menor ou, pior, com charlatanismo, alguns textos cruzam essa fronteira e vão mais além. Não tenho nenhum livro específico para citar, mas há um estudo especial nessa área que atualmente tem me feito voltar àquela adolescente ávida por conhecimento.
Há alguns meses, me peguei estudando o comportamento de certo rapaz. Não entrarei no mérito de porque eu estava estudando o comportamento dele... Não hoje. (Espero que ele não esteja lendo isso. Não, não estará.) Na verdade, eu estava pensando em como algumas coisas são contraditórias entre o agir, o falar e o pensar. “Falar é fácil”, é uma expressão muito simples. É fácil falar sim. O difícil é agir de acordo com o que a boca expulsa.
Fico intrigada com o cérebro humano porque muitas vezes a gente fala uma coisa por falar ou para esconder a nossa intenção real. E é essa última questão que me faz pensar. Procurei na internet algumas teorias sobre isso, sobre o que a boca fala e os gestos desmentem. Encontrei a Body language, ou a linguagem corporal. Resumindo, o corpo dá alguns sinais não verbais (gestos, ações) que podem identificar as reais intenções de alguém; aquilo que está em seu inconsciente e, por alguma razão (timidez, medo...), não vem à tona em forma de palavras. Descobri alguns movimentos corporais já bastante batidos, como mão na boca significando mentira, cruzar os braços significando que não quer se comunicar etc. Mas não dá para generalizar e pensar que uma coceira na boca é sinal de que alguém está mentindo, porque há outros fatores, como o meio e a cultura, que modificam uma postura.
A questão toda é que eu banquei a sabichona e me ferrei de verde e amarelo, algumas vezes em que segui minha lógica, quase natural, de estudar o comportamento das pessoas enquanto elas falam comigo. Enganei-me várias vezes e continuo me enganando. Recentemente, ouvi de uma psicóloga: “muito interessante você ter observado que fulaninho não parava de olhar para o relógio enquanto conversava com você, mas isso pode significar não somente que ele estava com pressa, mas que ele estava ansioso para que alguma coisa legal acontecesse.” (Pior que não aconteceu, porque eu fiquei pensando se eu ia levar um fora ou não... Ops, mas esse não é o misterioso rapaz...) Mas eu sigo com a certeza de que há 50% de acerto, pelo menos nos sinais mais comuns. Obviamente, eu só estudo o comportamento de quem me interessa, porque eu tenho o péssimo hábito de “sair de órbita” quando alguém desinteressante vem me falar algo igualmente desinteressante (que é só o que pessoas desinteressantes podem fazer). Mas essa é outra história, que rende outro post (e que eu também andei pesquisando. É eu estou meio sem ter o que fazer aos domingos).
EM TEMPO: Dia 29/09 estreia na Fox a série Lie to me, exatamente sobre isso! Estou ansiosa para ver.


sábado, 12 de setembro de 2009

Shopaholic, embalagens e conteúdos

Nesta tarde de sábado um pouco melancólica, resolvi assistir um filminho pipoca só para distrair a mente que teima em vagar por pensamentos às vezes não tão agradáveis. Sem preconceitos, assisti à Confessions of a shopaholic. Bobo, sim. Polêmico, talvez. Trata-se da história de uma garota viciada em compras. Especificamente roupas, sapatos, bolsas e acessórios. Rebecca Bloomwood não resiste a uma vitrine. Mas ela não tem grana suficiente para pagar as dívidas que contraiu em seus 12 cartões de crédito. Depois de perder o emprego de jornalista em uma revista de jardinagem, Rebecca fica desesperada para conseguir um novo emprego, desta vez em sua revista favorita de moda. Afogada em dívidas e tendo que mentir para seus credores, Rebecca acaba sendo contratada por uma revista de economia, assunto que até então ela achava que não dominava. Escrevendo para uma coluna sobre finanças muito pessoais, ela acaba gastando o salário inteiro em um único vestido. A partir daí várias situações tragicômicas acontecem até que ela finalmente consegue entender que é viciada em compras e busca ajuda.
Realmente o filme me distraiu, mas também me fez pensar em mim mesma e em várias outras pessoas que conheço. Mulheres viciadas em compras que simplesmente não conseguem ver isso como uma doença, um mal moderno capaz de se igualar ao vício de qualquer droga ilícita em se tratando de estragos psicológicos, financeiros e sociais.

Nunca fui uma shopaholic de carteirinha, dessas que se atolam em dívidas astronômicas. Mas eu sempre via meus planos de uma viagem internacional, uma poupança para o futuro, um curso para impulsionar a carreira se esvaindo a cada passada dos meus dois cartões de crédito. Como Rebecca, eu comprava coisas pela simples vontade de ter aquilo que eu via brilhando em uma vitrine dentro do meu armário. Eram coisas das quais eu realmente não precisava. Mas por que eu comprava?
Quando era criança, meu sonho era ficar trancada no shopping e ter todas aquelas coisas maravilhosas só para mim, pelo menos por um dia. Quando fiquei adulta e totalmente vaidosa, eu queria ter todas aquelas coisas para sempre. Meu primeiro salário eu gastei no shopping. Sapatos, bolsas, roupas... Afinal, eu precisava me vestir bem para a minha nova fase na vida. Várias outras fases depois, o cartão de crédito corria solto entre as diversas lojas do shopping. Para cada ocasião, uma roupa, uma bolsa, um sapato, vários acessórios.
E assim foi até que as faturas dos cartões chegaram a um valor maior do que eu poderia pagar. Desespero total! Promessas e mais promessas depois e um bom (mas injusto) acordo com a operadora do cartão, consegui quitar e cancelar um dos cartões. Ainda tenho outro, mas a meta é quitá-lo também.
A grande questão disso tudo e razão deste post é que por que a nossa vida ficou tão vazia a ponto de termos de preenchê-la com delírios consumistas, verdadeiros vícios que nos levam ao fundo do poço e a gente teima em dizer que não é vício, são só umas "comprinhas". Por que comprar coisas de que você não precisa? Por que ter 10 bolsas pretas? Por que ter um armário de sapatos? Se estou chateada, eu compro. Se estou alegre, eu compro.
Eu tenho um hábito, comum na minha profissão de jornalista e produtora, de, antes de escrever algo, pesquisar a fundo sobre o tema, verificar a opinião dos especialistas no assunto, esgotar todas as possibilidades de argumentos. Porém, em meu blog, nesta válvula de escape virtual, eu não presto atenção ao que os especialistas dizem porque, em se tratando da minha vida, a maior especialista sou eu. Por essa razão, eu tenho as minhas próprias teses sobre os meus assuntos. E a minha opinião para o fato de eu ter quase me tornado uma shopaholic (e ainda ter resquícios disso) é que a ditadura da beleza e do ter, em vez de ser, estava completamente enraizada em minha vida - assim como na de várias outras pessoas.
Por mais que a gente não queira fazer parte dessa sujeira, não há como escapar. Eu quero fazer parte, eu quero ser como todo mundo é. Apesar de levantar a bandeira da originalidade, é praticamente impossível ser uma pessoa completamente original, se tudo o que temos são cópias. Cópias do que vimos nas revistas, nas novelas, nas artes, na tecnologia. Não há escapatória.
Mas há o bom senso. Há uma voz, um suspiro de inteligência que pede para você parar. Pede para você enxergar o mundo com outros olhos. Pede para você se enxergar com outros olhos. Nada é mais importante do que ser. Ser você mesma, uma pessoa única e original entre tantos clones modernos. É difícil se livrar do invólucro. Você acaba se tornando apenas uma embalagem sem um produto dentro. E na tentativa de agradar os outros com a embalagem, o conteúdo vai se esvaindo, até chegar a um ponto em que ele desaparece, e você passa a ser completamente oca. Eu não queria ser só uma embalagem. Eu queria abrir essa embalagem e retirar o conteúdo. Um conteúdo que até então era totalmente desconhecido, camuflado por seda, couro, ouro 18 e algodão.
A cada dia eu descubro mais uma utilidade desse meu conteúdo. Descubro que ele não é tão frágil quanto eu pensava, que não se quebra diante do primeiro tombo, do primeiro fora, do primeiro tapa com luvas de pelica. Tudo bem, ele dá uma balançada, porque às vezes venta. Mas logo está firme, pronto pra outra, porque eu sei que ele não vai me abandonar na hora em que for realmente necessário e admirado. E eu tenho orgulho de carregar meu conteúdo. Ele é mais brilhante que qualquer gloss, mais caro que uma bolsa Prada, mais perfumado que Victoria's Secret, mais valioso que qualquer joia. Ele não fica puído, nem rasga. E estará sempre comigo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Me, myself and I


Feriadão de 7 de setembro, segunda-feira. Uma busca desesperada por "descanso" começou logo na sexta-feira, para alguns já na quinta. Engarrafamentos na cidade e nas estradas para regiões mais afastadas. Loucura na rodoviária e nos aeroportos. Região dos Lagos lotada, não importa se há nuvens escuras no céu, a praia está repleta de barracas e cangas estendidas. Conversas fiadas, bebedeira de fim de semana, dor de cabeça e ressaca. Uma casa de dois cômodos para 20 pessoas. Banheiros congestionados. Panelões de macarrão com carne moída no fogão. Depois, outra loucura para voltar para casa e começar mais uma semana.
Vejo essa cena como uma fuga louca da cidade, da casa que nos acomoda, do trabalho que nos sufoca e da nossa própria presença, às vezes feliz, e, no mais das vezes, solitária. Fugi disso dessa vez. Só dessa vez eu quis ficar comigo. Três dias da mais simples diversão, com a melhor companhia de todas: eu. Há tanta gente no mundo e tantas formas de se conectar a essas pessoas, é como se eu não pudesse ficar só. Só eu e eu.
Faço conexões com pessoas o dia inteiro. Acordo e ligo a TV para saber das primeiras notícias do dia, das condições do tempo e das rodovias. Pego um ônibus para o trabalho que logo fica cheio de pessoas pensativas, cansadas, com sono, falando em seus celulares, lendo seus jornais, ouvindo suas músicas. Chego no trabalho e mais pessoas. Elas digitam freneticamente nos teclados, trabalhando ou matando o tempo em suas redes sociais. Almoço: mais pessoas famintas por alguns minutos longe de seus desktops. A tarde corre, o chefe pede algo urgente, em cima da hora, tento me organizar para cumprir a ordem, já que um emprego legal e que pague bem não é fácil hoje em dia. Alguns minutos depois da hora de saída, deixo o trabalho, corro para pegar o primeiro ônibus, torço para não ter engarrafamento ou para ter algum amigo que ofereça carona... Droga, um trânsito horrível. Longa espera pelo ônibus lotado. Mais de uma hora depois estou em casa. Mal tiro os sapatos, o telefone toca. Duas horas de conversa com minha irmã sobre desventuras amorosas, problemas no trabalho, loucuras das amigas... Minha roommate pergunta se quero ver um filme e comer pipoca. Ok, por que não? Depois do filme, checagem geral: emails, twitter, orkut.Uma da manhã, finalmente vou dormir...
E tudo isso continua, é uma coisa sem fim. Às vezes, com algumas alterações, mas a essência é sempre a mesma. Então, nesse feriadão, decidi que eu não seria de ninguém, nem do trabalho, nem da minha irmã, nem da minha roommate, nem das amigas, nem de algum carinha, nem da internet. Eu seria só minha. Isso aí, passei o feriado fazendo coisas por mim. Eu tenho tempo para tudo, menos para mim. Não há tempo para ouvir o que eu quero dizer; para fazer o que eu quero fazer. Algumas vezes as pessoas são demais. Elas falam, cuspindo palavras pela boca. Você as ouve, dá conselhos, diz coisas maravilhosas que você mesma não faria.



A gente se desespera tanto por encontrar amigos, namorados, colegas; talvez nem todos estão realmente aí
para você. São outras pessoas na mesma situação: ninguém quer ficar sozinho. Eu fiquei sozinha nesse feriadão, enquanto todos viajaram ou procuram mais uma diversão barata que nos enche de alegria e cachaça todos os fins de semana. Diverti-me horrores comigo. Eu comi o que eu quis comer, bebi o que eu quis beber, paguei somente por aquilo que eu consumi, não rachei a conta. Eu assisti a todas as séries e filmes porcaria que eu queria assistir. Eu almocei Cheetos com Heineken. Eu fiquei acordada até as três da manhã fazendo o que eu queria fazer, indo aonde eu queria ir. Eu ouvi a minha voz, eu dei conselhos para mim, eu fiz promessas que espero cumprir. Espero ser leal comigo.
Não que eu não goste de estar com outras pessoas. Há pessoas que fazem da nossa vida uma festa ou um velório, todas têm o seu valor. Mas nesse feriadão eu queria estar comigo. E só. Eu queria saber de mim o que eu realmente quero, para onde eu estou indo e por quê. Descobri coisas fantásticas sobre mim, coisas que ninguém no mundo me disse, que ninguém nunca pensou. Descobri que eu não quero qualquer coisa, que eu não preciso de qualquer coisa. Eu não quero qualquer trabalho, eu não quero qualquer amigo, eu não quero qualquer namorado. Descobri que eu sou muito melhor do que eu imaginava, que eu tenho talento, um belo corpo, um papo legal. Talvez eu já soubesse disso, mas com tanta gente criticando ou elogiando - na melhor das hipóteses - a gente acaba não percebendo.


Eu mereço as coisas legais que acontecem comigo e não mereço as coisas não tão legais que acontecem pelo simples fato de que existe uma coisa que as pessoas falam e que parece bobagem: Eu não me achei no lixo. E por essa constatação tão óbvia, eu decidi fazer somente aquilo que realmente me faz feliz. Serei sincera comigo, e, por consequência, com os outros. Não vou mentir para agradar ninguém, não vou dizer que algo está ok, se não está. Não vou dizer eu te amo, se não amo. Não vou beber cerveja quente por que não tem mais gelada.
Esse feriadão foi o melhor do ano. Tenho certeza de que amanhã, quando eu voltar à rotina e todos estiverem falando do maravilhoso feriado longe da cidade e longe de si, eu estarei verdadeiramente satisfeita com os três dias de folga de tudo isso.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A nova rainha louca do Brasil

Depois do sumiço (e achado) do Belchior, voltei minha atenção para outra questão do universo internáutico: a pouca habilidade com o português da apresentadora/modelo (fotográfico e pornográfico)/rainha/celebridade/cantora Xuxa.
Criança, eu era mais que uma fã. Vestia-me como ela, dançava como ela e até cantava com a voz esganiçada como a dela. Certa vez, aos 9 anos, falei para minha mãe que queria pintar os cabelos de loiro ou comprar uma peruca, já com os lacinhos. Não me envergonho do passado, mas sinto vergonha pelo presente e pelo futuro.
Percebo que ainda existem muitos “baixinhos” que não cresceram e que persistem em seguir esta mulher. As crianças de hoje não dão o menor Ipobe para ela. Minha sobrinha de 9 anos, por exemplo, tem ídolos bem mais jovens e menos infantis como Hanna Montana, Jonas Brothers e Isa TKM.
Ainda assim, eu me pergunto o que há de novo em Xuxa para ela querer gravar um filme infantil, sendo ela idolatrada por pessoas da minha idade? Não sou especialista em sociologia ou antropologia, mas vejo que Xuxa agrada àqueles que, como ela, sofrem da síndrome de Peter Pan e evitam deixar a Terra do Nunca e encarar a dura e enrugada face da velhice.
A coisa pode ficar pior. Xuxa não só tem a idade mental de 12 anos, como também tem a idade escolar de 12 anos. Depois de tentar, sem êxito, superar as dificuldades de adaptação às ferramentas do twitter, a rainha louca desceu do trono e distribui desaforos aos seus súditos.
Li alguns blogs e outras matérias não muito confiáveis e fiz um balanço sobre as coisas que poderiam ser verdadeiras sobre o comportamento de Xuxa no twitter. Primeiro, sem o menor traquejo com o estilo usado na internet, Xuxa tuitava tudo em caixa alta. Avisada por seus seguidores de que digitar assim é como gritar com as pessoas, ela não entendeu bem o recado e disse que era bobagem e que aquele era seu “jeitinho” de escrever. Depois de outros foras, Xuxa resolveu ceder e aprender a ter educação digital: “eu adoro esse jeitinho, mas falaram tanta coisa feia q tô eu aqui de igual prá igual.” Como se ela fosse feita de outra matéria que não músculos, sangue e ossos. Claro que isso foi apenas o começo. Um xou de erros de ortografia levou seus seguidores às raias da irritação, que passaram a devolver o sentimento com várias piadinhas acerca da intimidade da rainha com o português. Xuxa distribuiu mais uma saraivada de foras com a fineza e a destreza que lhe são peculiares. A gota d’água foi sua herdeira, que tuitou que gravaria uma “sena com a cobra” no filme protagonizado pela mãe. Não só o erro de ortografia de Sasha foi criticado (que poderia ter sido perdoado e corrigido, em se tratando de uma criança), mas também a resposta de Xuxa, provando que a emenda saiu pior que o soneto: “pra quem não sabe minha filha foi alfabetizada em inglês, vou pensar muito em colocar ela pra falar com vcs, ela não merece ouvir certas m…” Depois de apagar o tweet da filha, ela ainda soltou mais uma pérola: “fui, vcs não merecem falar comigo nem com meu anjo.” Como diz Roberta Miranda, vá com Deus!
Li em algum blog que, como milhares de outros, descreveu a cena não tão insólita para o nível das celebridades, que esse episódio serviu para provar que as ferramentas da internet proporcionaram aos usuários uma arma poderosa para a crítica a tudo que os incomoda e que para o qual não se tinha oportunidade e canal para extravasar. No fim das contas, podemos expor aquilo que sentimos, a verdade nua e crua, que antes, como anônimos, éramos impedidos de dizer. Obrigada Xuxa, por abrir nossos olhos. Desejo que seja feliz bem longe daqui. Não está bom o tempo em Miami?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um macho contra-ataca


Acredito na liberdade de expressão, ou não teria feito jornalismo. Recebi um email que deveria ser um comentário sobre meu post "Eu, tu e quatro mano". Um rapaz (eu acho que era um rapaz) não concordou com algumas das minhas opiniões ao longo do texto.
Como eu ia dizendo, acredito em liberdade de expressão. Reproduzo (e respondo) o email de tão sincero e macho rapaz para que ninguém um dia diga que eu sou contra a voz das minorias:



CORRIDA CONTRA O RELÓGIO

Macho Man: Assim como a autora do texto, eu também me diverti com a tal “seqüência”. Contudo, cabem algumas digressões acerca de tal comédia. Dessa vez, serei econômico e nem tão mau assim.
Nanda: Caro Macho Man, "sequência", pela nova ortografia, perdeu o trema. Perdoo (sem circunflexo) você porque ainda não é obrigatório, mas como eu sou avant garde, já estou usando. Aviso: a partir do ano que vem você terá de se preocupar com isso.

Macho Man: A tal amiga “coitada”, que está na “situação” de “ser mulher, solteira, bem resolvida emocionalmente” e “separada” ainda pensa no ex-marido. Ressalte-se: será que Ela é mesmo bem resolvida emocionalmente?
Nanda: Minha amiga não é coitada, confesso que ela faz e fala muita merda como qualquer um de nós, mas não é nenhuma coitadinha. Acredito que ela pense no galinha do ex-marido sim, afinal eles namoraram durante séculos e casaram-se depois, e, em menos de um ano, o cara arrumou outra e se mandou. Isso é tão habitual... 

MM:
Decerto que a “seqüência” é engraçada, mas pelo próprio texto, se investigarmos, encontramos vários fios soltos. Por que a tal amiga quer dar o troco no ex-marido? Bem, foi dito que Ela é separada e bem resolvida. Entendo experiência da vida que Ela quer dar mais que “o troco” para o ex-marido. A vida ensina muita coisa.
N: Uma vez vi numa novela (isso é brega, mas é verdade) que a melhor vingança é ser feliz. Esse é o troco. Ao contrário das mal resolvidas, ela não foi fazer macumba na encruzilhada para o santo trazer o ex em 24 horas.

MM: 
Acerca do “dedo podre” e da idade, a tal amiga faz uma verdadeira corrida contra o relógio e teme perder tempo com os caras errados. Parece que Ela está agoniada.
N: Existe uma teoria que explica muita coisa sobre o relacionamento entre os animais, sejam eles racionais ou irracionais. Os machos estão em busca de quantidade porque acreditam ser importante espalhar sua herança genética por aí, ou seja, para os machos importa a quantidade. Já para as fêmeas, importa a qualidade, por isso elas escolhem seus parceiros e só engravidam daquele que julga ter o melhor código genético entre todos os outros.
Veja este textinho retirado do Usina das letras:


"Ao pular a cerca com fêmeas solteiras, os machos tem a certeza de que seus espermatozoides encontrarão óvulos ainda não fecundados, então ele tem a garantia de estar fazendo um investimento genético seguro. Mas, como a fêmea virgem é uma incógnita reprodutiva, está correndo o risco de encontrar uma fêmea estéril, o que significa entrar num beco sem saída, geneticamente falando.


Ao pular a cerca com fêmeas casadas, seus espermatozóides terão que competir com os espermatozóides dos maridos das amantes, pelos óvulos. Por outro lado, esses machos correm o risco de encontrar óvulos já fecundados, o que seria um investimento genético perdido. Em alguns pássaros, o macho que pula a cerca com fêmea acasalada, bica a cloaca da última, para que ela ejete para fora o esperma do macho anterior. Com isso está garantindo que SEUS espermatozoides e não do macho anterior vão fecundar os óvulos da fêmea. Além disso, pular a cerca com fêmeas casadas oferece a garantia de que os filhos que terão com a amante serão cuidados pelo corno. Mas também, ao pular a cerca com fêmea casada, o macho está correndo o risco de ser agredido pelo corno. É para isso que puseram chifres na cabeça dos cornos, para que eles pudessem atacar o rival ?

Fêmeas de animais preferem pular a cerca com machos casados, pois pode ter a certeza da qualidade genética do amante: se ele conseguiu parceira sexual é porque é macho geneticamente superior, portanto em condições de lhe fornecer os melhores espermatozoides.


Arrumar amante solteiro é arriscado, pois macho solteiro é uma incógnita genética e o fato de serem solteiros é sinal de que são geneticamente inferiores."


Dito isso, apelo para o instinto animal numa analogia com o ser humano: nós escolhemos demais e acabamos perdendo o time. E, embora muitas mulheres digam que não, a maioria sonha com um filho e também com um casamento harmonioso. Quanto mais o tempo passa, é mais difícil tudo isso se realizar. Pior: quanto mais o tempo passa, mais aumenta a concorrência rs.


MM: Será que Ela é a mulher certa? Será que Ela é tão bem resolvida assim. Parece-me que não, pois nem mesmo sabe como vestir-se sem parecer abobalhada ou pessoa idosa. Se Ela fosse tão bem resolvida, não ficaria tão preocupada com esse detalhe.
N: Só mesmo um homem para achar que uma mulher, por mais desprovida de beleza que seja, não se preocupa com a aparência. 

MM: Mais ainda, Ela vive no passado do seu casamento desfeito, pois ainda pensa em dar um “troco” no ex-marido. Por isso, Ela não consegue transcender e encontrar o tal “cara certo”.
N: O grande feito dela é não pensar no casamento desfeito, ela está tentando se recuperar. Ela não encontrou o cara certo porque está procurando nos lugares errados, é disso que trata essa história.


MM: Talvez o tal ex-marido tenha sido o cara certo e Ela só se deu conta agora. Por isso que Ela ainda pensa nele. De que adiantaria Ela encontrar o cara certo se Ela ainda está pensando no ex-marido? Quando Ela encontrar o cara certo, Ela nem vai se dar conta.
N: Definitivamente ele não era o cara certo. 


MM: Uma mulher linda e malhada nem precisa se esforçar muito para arranjar um par masculino. Talvez Ela esteja se esforçando demais na academia. Ou talvez não seja linda e malhada.
N: Pra vc ver como a concorrência é foda! 


MM: A Autora do texto ainda chega ao cúmulo de dizer que a tal “amiga” tem “dedo podre” para arranjar pares, assim mesmo no plural, vejamos: “A não ser pelo fato de ela sempre, sempre, mas é sempre mesmo, escolher os caras errados”. Tal afirmativa contém um traço de promiscuidade. Ela é mesmo a mulher certa? Por que Ela quer tantos homens?
N: Ela não quer tantos homens, ela está tentando achar o homem certo. Como vai achar se não procurar?


MM: O texto parece indicar que a tal amiga vive uma agonia por ter atingido os 30 anos de idade na condição de separada. Ainda não sei bem se essa seqüência é uma tragédia ou uma comédia.
N: Ambas as coisas.


MM: Cinco amigas solteiras e um homem gay. Definitivamente é uma tragédia. Desse jeito, os cara certos jamais aportarão a praia delas. Assim, essas “amigas” vão continuar se divertindo sem dó nem piedade, assistindo ao implacável relógio biológico dar voltas, desenvolvendo aquela noticiada paranóia de ver o útero parar de funcionar e os “melequentinhos” nunca virão. Os melequentinhos podem até vir, mas passearão no shopping com seus pais separados nos shoppings da Cidade. Que tragédia.
N: Qual é o problema de sair com um amigo gay? Ele é divertido, sincero e carinhosos. Você é tão preconceituoso... Nem sempre nós saímos para "caçar". A gente sai pra se divertir também.

MM: 
A diferença está em ser e parecer ser a pessoa certa. Que as “amigas”adicionem isso nos seus “emocionais bem resolvidos”.

N: Tentaremos, obrigada pela dica.

MM: Por fim, se não quiser encontrar um cara que saiba pelo menos falar inglês, não vá a um curso de inglês, ou vá a um curso de qualquer coisa, menos de inglês, pois lá, provavelmente, todos falam inglês. Ser emocionalmente bem resolvida é também saber se expressar.
N: Isso foi uma piada e eu não vou explicar uma piada. Existe uma célebre frase, que dizem ter saído da boca ou do papel de Millôr, que alega: "Idiota mesmo é o sujeito que, ouvindo uma história de duplo sentido, não entende nenhum dos dois." Se não entendeu, sorry, faça um curso de português.

MM: 
Por hoje é só.
N: Ainda bem, né?