sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Amor vampiro



Na empresa em que trabalho é servido desjejum aos funcionários. Gosto desse momento, mais que do almoço, porque posso ouvir as notícias fresquinhas que vão permear o dia. Eu funciono muito bem de manhã, meus sentidos estão mais aguçados.
Pois bem, o papo de um café da manhã foi o namorado — se é que se pode chamá-lo assim — da colega de trabalho. Todo mundo diz que não entende como a fulaninha consegue ficar com um cara que literalmente “caga” pra ela. “Mas ela é nova, só tem 30 anos, é bonita, não precisa disso”, “Ela vive correndo atrás do cara e ele tá saindo com outra, mas ela não enxerga”, “Ele dá vários furos com ela”. Fico feliz que algumas garotas possam não ter passado por esse tipo de situação na vida. Mas vamos combinar que 99% das mulheres já teve um namorado assim:
1)      Termina num dia e volta no outro
2)      Numa roda de amigos, não é carinhoso nem te dá atenção
3)      Deixa o celular desligado durante todo o fim de semana
4)      Não te liga, você quem tem que ligar para ele
5)      Não trabalha ou não estuda; ou exerce uma profissão obscura
6)      Te pede dinheiro emprestado uma vez e outra também
7)      Não transa bem, e você compreende isso, Ele deve estar com algum problema pessoal, tadinho...
8)      Não quer saber de seus problemas, só de sair pra balada, Por que encher a cabeça dele com meus problemas?
9)      Tem ataques de ciúme esquisitíssimos e te liga sem parar
10)  Te obriga a fazer coisas de que você não gosta
11)  Te ameaça

A realidade é dura, mas alguém tem que dizer isso: EU NÃO AGUENTO MAIS ESSES PAPINHOS! ESSE CARA NÃO GOSTA DE VOCÊ. NÃO, NEM UM POUQUINHO, NEM BEM NO FUNDO. Eu já tive um amor assim, vampiro. O vampiro não suga o sangue de suas vítimas? Pois é, esse tipo de amor suga não só o sangue, como as energias, o dinheiro e a saúde de uma pessoa. Eu sei por experiência própria o quanto é complicado a pessoa vampirizada enxergar isso. Todo mundo me avisava, minha mãe chegou a me tirar da escola no meio do ano letivo, com vestibular, e pagou análise para mim por causa de uma situação como essa. Eu era cega por esse amor vampiro: matava aulas, enganava a terapeuta, armava encontros de madrugada... Eu praticamente arriscava minha vida. E para quê? E por quê? Bom os resultados foram catastróficos: Fiquei endividada no banco, fiz coisas que hoje me arrependo, briguei com toda a minha família e os amigos se afastaram de mim, perdi o emprego e a autoestima... Enfim, esse vampiro não trouxe nada de bom para mim. Passados mais de 10 anos, hoje nos falamos, mas estou totalmente curada. E o vampiro também. Estamos felizes. Um longe do outro.
Por mais que todos tentassem me ajudar, nada funcionava. Até que um dia, minha mãe disse: “Eu desisto! Vou deixar você quebrar a cara.” Foi a melhor coisa que ela fez. Eu quebrei a cara mesmo, literalmente. Aprendi a lição a duras penas, mas aprendi.
Eu sei o quanto é difícil a gente terminar uma relação. Não envolve só amor (ou o que pensamos ser amor). Envolve dependência afetiva, falta de autoestima e medo de passar o resto dos nossos dias sozinha como uma bolsa Chanel velha.
Eu tenho medo de ser essa bolsa Channel velha. Mas eu tenho pavor de me relacionar novamente com um vampiro. Como o pavor vence o medo, eu não consigo mais me relacionar com uma pessoa que tenha um, alguns ou todos os predicados já relacionados anteriormente. Ok, defeito todo mundo tem. Mas o pior defeito de um vampiro é não amar sua vítima, é não dar a mínima para ela. E o pior defeito do vampirizado é não ter autoestima suficiente, é não se amar de verdade, a ponto de se deixar sugar pelo vampiro. Essa equação vai dar em uma pessoa aproveitadora sugando tudo de uma pessoa que não se leva a sério, que não acredita em seu poder de sedução e não se ama.
Toda vez que alguém vem com um papinho desse, eu digo a mesma coisa: Tudo que eu disser vai entrar por um ouvido, ficar na sua cabeça durante cinco minutos, e sair pelo outro ouvido. Então, quebre a cara e depois me conte. Ninguém se livra de um vampiro só porque a amiga, a mãe, o padre deu ótimos conselhos. O vampiro só é afastado quando a vítima seca (quando acabam as energias ou o dinheiro) ou quando ela resolve dar um basta: troca os números de telefone, vai para outro país, joga tudo fora, chora por uma semana e depois recupera sua autoestima, aceitando seus defeitos e exaltando suas qualidades.
Fato é que está difícil conseguir um bom partido. Mas ter o mínimo de exigência é essencial para manter sua saúde física e mental. Entender e viver com toda a confiança a frase “Antes só que mal acompanhada” é fundamental para ser feliz consigo mesma. A ansiedade e o desespero para não terminar como uma bolsa Chanel velha faz com que a gente aceite qualquer “esmola”, fique com o primeiro que aparece. Sinceramente, eu prefiro ser uma bolsa Chanel velha num brechó esperando um comprador que me aceite como eu sou, que ser de alguém que me estrague, suje, me jogue em qualquer canto, só pra ter certeza de que tenho um dono.
E não me venham com esse papinho! Lugar de vampiro é no cemitério!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A felicidade alheia




Eu estava num bate-papo virtual com uma amiga que está participando de um processo seletivo. De manhã eu tinha falado com ela por telefone e por acaso me lembrei de perguntar sobre o processo, e ela me disse que ninguém tinha procurado por ela depois de passadas duas ou três semanas da primeira fase. À tarde, ela entrou no bate-papo e me disse: “Fernanda, você me dá sorte. Me ligaram da empresa e eu vou para a terceira e última fase do processo!”
Engraçada a sensação que eu senti quando li “você me dá sorte”. Eu fiquei feliz por ela, fiquei feliz por saber que algo positivo está acontecendo com ela, que ela está empolgada com isso e que tem esperanças. Fiquei feliz por ter uma participação, ainda que mínima, na felicidade dela.
É incrível como o tempo é bom pra gente e ainda reclamamos que ficamos mais velhas e enrugadas. Eu adoro fazer aniversário e ver como eu estou diferente de cinco, seis anos... De uma pessoa egoísta e reclamona, rebelde e destituída de amor, estou sentindo que vou me tornando uma pessoa mais paciente e zelosa, desacelerada e afetuosa. A juventude nos deixa impaciente por crescer, ser alguém, ter dinheiro, ridicularizar os pais... Isso acaba cansando. Graças a Deus.
Nisso tudo descobri como é bom participar da felicidade alheia. Ajudar as pessoas com algo que você entende. Muita gente diz que temos que ser solidários com o pessoal de Angra que perdeu tudo no Ano-novo. Outros visitam a África ou trabalham com crianças vítimas de violência. Eu admiro muito essas pessoas, mas meu nível de solidariedade não alcançou esse patamar, ou eu realmente me preocupo com outro tipo de problema. Não menosprezo “meus” desamparados, não! Eles são tão carentes como uma criança na África. E eu sempre ouvi que se deve fazer o bem, sem olhar a quem.
Eu não tenho grana nem posso me dar ao luxo de deixar meu trabalho para viver na África. Mas eu tenho uma coisa que considero bem legal: ouvidos. Eu ouço muito as pessoas, e dou conselhos também. Alguns conselhos eu não pratico, porque em casa de ferreiro, espeto é de pau; mas a maioria eu tento viver no meu dia a dia.
Taí, hoje eu me considero uma pessoa feliz. Não porque trabalho ou tenho meu apê (alugado). Até porque me faltam váaaaaaaaarias coisas, um namorado, por exemplo. Mas eu me considero uma pessoa feliz porque sou supercapaz de me animar com coisas muito simples como a felicidade alheia. Sou feliz porque não preciso invejar as coisas dos outros, já que compreendo que tenho tudo aquilo que eu preciso. Sou feliz porque tive e tenho a maior força de vontade quando entro numa dieta (sempre acredito que sou capaz, que eu vou conseguir sobreviver sem um chocolate diário). Sou feliz porque não sou igual nem inferior a ninguém. Sou feliz porque gosto de praia e caipirinha. Sou feliz porque moro no Rio. Sou feliz porque enxergo, ouço e ando. Sou feliz porque tenho duas gatinhas. Sou feliz porque posso dormir até tarde no domingo. Sou feliz porque danço esquisito e não me importo. Sou feliz porque faço ouvido de mercador para quem fala abobrinha. Sou feliz porque posso viajar nas férias. Sou feliz porque posso comprar o lanche mais caro do Bob’s. Sou feliz porque comprei uma bolsa de couro legítimo. Sou feliz porque tenho uma família. Sou feliz porque a vida é curta e eu não tenho tempo a perder.