segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Eu sou a Odete Roitman


Descobri essa (triste?) realidade em um quiz do Facebook, o qual, não desconfio por que, não disponibilizou o resultado em meu perfil. Na hora eu fiquei chocada: sempre fui fã da novela, mesmo quando em 1988 eu tinha apenas 10 anos. Nessa época minha mãe provocou-me um trauma — que foi reascendido quando a novela estreou no canal Viva — por dizer que eu era a maior Maria de Fátima. Hoje, depois de me fazer gastar uma grana no divã de analistas, ela me diz que não se lembra disso.
Mas foi com grande surpresa e um pouco de descrença que recebi o resultado do meu quiz “Quem é você em Vale Tudo?” Eu acompanhava a reapresentação desse grande sucesso da teledramaturgia da Rede Globo (talvez o último) quando estava de férias, e sempre à 00h45, por falta de coisa melhor p fazer, eu estava de frente para a TV ligada no canal 36. Agora que voltei a trabalhar, não posso mais me dar esse luxo e vejo tudo no YouTube. Enfim, quando eu estava de férias a famigerada Ms. Roitman ainda não tinha voltado de Paris, seu habitat natural, e sua chegada estava sendo ansiosamente aguardada por todo o elenco rico da novela. Até eu já estava com medo da Odete: todo mundo pintando a caveira dela e ela toda pimposa em Paris com um figurante mudo.
Voltei das férias, fiz o quiz e contei para minha analista. Eu fiquei tão apavorada por parecer com Ms Roitman que eu fiz o quiz quatro vezes, mudando algumas respostas, mas o fantasma de Odete não me deixou dúvidas sobre minha personalidade assombrosa.
Eis que finalmente Ms Roitman chega ao Brasil. E eu comecei a acompanhar sua chegada via YouTube. Quando ela chegou à casa da irmã Celina, foi logo dizendo que a caçula gostava de esbanjar dinheiro. Depois, ao ser convidada para um coquetel por Renato, ela voltou contando à irmã que se fizesse uma reunião para seus amigos seria na piscina, para não ver as mulher mal-vestidas cheias de babados e os homens feios. E pra fechar com chave de ouro, em um jantar oferecido por ela a alguns amigos, Ms Roitman disparou à mesa coisas do tipo “ladrão bom, é ladrão morto”, se mostrou a favor de cortar a mão de ladrões para que eles não roubem mais, disse que as pessoas no Brasil não gostam de trabalhar e são preguiçosas e outros impropérios contra a pátria amada e seus rústicos habitantes.
Ouvindo isso, alguns ficariam chocados. Eu não. Afinal, eu sou mais a Odete Roitman. E de vilã não temos nada, apenas um pouco de gênio e um amor natural pela Europa.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Forgive and forget





Você está procurando uma nova casa para morar. Você é bastante exigente e deseja uma casa com quintal e dois quartos em um bairro descente. Você está procurando esse lugar há meses, já visitou várias cabeças-de-porco, barracos disfarçados e outros absurdos que algumas pessoas insistem em chamar de lar.
Em uma manhã de sábado você acorda com o pensamento de que a próxima casa que agendou para visitar é a da vez. “She’s the one.” Você vê a casa e se apaixona. Uma bela casa, muito bem conservada, com uma varanda enorme e uma cozinha que cabe toda a família no Natal. Você pegas as fichas de cadastro e se promete encontrar todos os vários documentos que a imobiliária está pedindo para você arrumar em um fim de semana. Você convence um parente a ser seu fiador, dando todas as garantias de que jamais deixará de pagar o aluguel ou mesmo atrasá-lo um dia sequer, levando presentinhos e fazendo uma visita depois de tanto tempo sem aparecer por lá.
Você deixa todos os documentos que conseguiu juntar depois de dois dias de captura na bagunça das gavetas. Seus documentos e os do fiador estão separados em dois envelopes perfumados. Então você vai dormir sonhando com a casa, porque no dia seguinte ela será sua.
— Não precisa você ir à imobiliária amanhã, eu vou. Você tem de trabalhar, eu estou tomando conta da menina. Vou deixá-la com sua mãe e vou à imobiliária, não se preocupe.
— Não sei... Eu dou um jeito de ir...
— Não, pode deixar. Eu vou.
No relógio, 7h00.
— Não é melhor você acordar e arrumar logo a menina para deixar na minha mãe? A casa é muito boa não podemos perdê-la. Certamente outras pessoas se interessaram...
— Deixa de ser neurótica, a imobiliária só abre às nove.
Você sai de casa com o gosto da derrota subindo aos poucos pela garganta.
Preocupada, às 8h30 você liga para casa:
— E aí? Já está saindo?
— Calma, tô terminando de arrumar a menina.
— Ainda?! Cacete a gente vai perder essa casa!
— Que que você quer que eu faça?
— Eu queria que você tivesse acordado mais cedo...
E então não dá tempo e alguém entrega a ficha de cadastramento na sua frente. Você perde a casa.
...
Eu tenho dezenas de defeitos, e meia dúzia de qualidades. Quando eu era mais jovem não estava nem aí para os defeitos, achava que tudo era qualidade. Mas conforme o tempo passa, alguns defeitos vão se tornando insuportáveis até mesmo para mim.
Perdoar e esquecer. Eu tenho de treinar isso o tempo inteiro. Quando uma ofensa se institui, quando algo não sai do jeito que eu imaginava, uma ação deliberada...
Eu tento exercitar esse hábito. Procuro pensar que às vezes a gente perde para ganhar algo melhor lá na frente. Isso dura alguns segundos... No segundo seguinte eu já estou pensando em dar umas chibatadas em alguém.
Eu tento muito ser Jesus Cristo. Incrível é seu poder de perdoar. “Eles não sabem o que fazem”. Então, não façam. Dar a outra face, multiplicar os pães, perdoar traições e negações... Como fazer isso? Isso existe? Qual é a fórmula para não ficar muito puta e não amaldiçoar toda a geração de alguém que te sacaneia ou que, tolamente, estraga todos os seus planos em apenas alguns segundos?
Não dá pra ser Jesus. Por mais que a gente tente, se esforce e se sacrifique. Esse cara era único. Já eu, sou mais uma pecadora.
Se eu não consigo ser Jesus, mas admito que não posso viver eternamente carregando um baú de mágoas, eu gostaria de poder pedir que não me machuquem mais. Não estraguem mais meus planos, não me sacaneiem. Não hajam como tolos ou sejam preguiçosos perto de mim ou para mim.
Impossível, não? E se alguém estiver pedindo neste momento para que não ajam com autoritarismo e rancor? E se alguém tiver pedindo que se afastem aqueles que não podem perdoar? Terei de ir para o limbo.
Então eu não sou Jesus e não quero ir para o limbo. Eu quero ter mais paciência. Eu quero acreditar que posso perdoar e esquecer e, assim, prosseguir tentando. Deixar a mágoa de lado, como se alguma outra pessoa pudesse se encarregar de afastá-la de mim para que não exista esse peso em meus ombros e eu possa olhar para o alto e avante!
Não só perdoar. Não só esquecer. Mas não permitir que a mágoa me cegue e me leve sem escalas para o limbo. Não dá pra pedir que não estraguem tudo. Sempre tem alguém para estragar, algum fermento cheio de fungos que vai solar seu bolo. Já que isso é impossível, só peço que me deem paciência e ânimo para perdoar e esquecer.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Enrolados e originais


Uma amiga tentava me dar uma série de conselhos sobre as velhas e rígidas leis que regem minha vida. Por uma razão que eu desconheço, ela tentou me dar uns conselhos “atuais” de beleza e disse que eu deveria alisar o cabelo.
Ela colocou a mão num vespeiro...
Ponto fraco desde que eu comecei a ter alguma individualidade, meu cabelo é cacheado e volumoso. Durante anos da minha (ainda) pouca vida, passei escovando, alisando, pranchando, “toucando” e certa vez, aos 13, quase passei o ferro de passar roupas nele para ir a uma festa. Tudo porque eu não aceitava existir num mundo em que a maioria das amigas tinha cabelo liso e o meu era um novelo de lã embolado. Mamãe, que não tem cabelo cacheado, vivia me dando força e, literalmente, uma mãozinha, para alisar as madeixas. Deixar meus cabelos naturais após uma chuva inesperada, era o mesmo que sair à rua parecendo a Vanessa da Mata de cabeça para baixo. (Que visão!)
A última vez que cometi um “cabelocídio” como esses foi ano passado. O resultado me agradou durante alguns meses, mas, depois, começava de novo aquele processo de alisar, puxar, esquentar, encher de química etc, o qual nem eu nem meu lindo cabelinho estava aguentando mais.
Mesmo com essa recaída do ano passado, desde 2007 resolvi assumir de vez meus cachos. E me sinto orgulhosa por ter nascido com eles. Acho que isso faz parte da programação daquele canal “Foda-se” que você liga quando faz uns 30 anos, sinal de que a crise de identidade está definitivamente sepultada.
Toda vez que eu levo minha cabeleira ao salão sinto que nos destacamos (a cabeleira e eu) das 50 outras mulheres que estão tentando domá-la. Eu sou a única com cachinhos. Eu sou a única... THE ONE.
Exatamente esse pensamento me faz, hoje, amar meus cachos. Eu sou única e original. Eu sobressaio numa multidão. Sinto-me feliz por não querer ser igual ou pertencer à mesma fôrma artificial.
E tem outra: cabelo alisado nunca será um cabelo liso. Soa artificial o cabelo das pessoas que fazem escova progressiva, de chocolate, marroquina e sei lá mais que tipo de nome os profissionais do cabelo vão inventar para a mesma coisa: um rolo compressor, capaz de destruir ondulações que depois serão seladas com uma chapa quente... Tenho dó de meus fios. Eles são parte do meu corpo também! Eles fazem parte da minha personalidade.
Além do mais a moda black vem pegando desde Beyonce e, mais recentemente, com Thaís Araújo, que ostentava uma cascata de cachos negros lindíssima e bem cuidada. (Não sei se era aplique, mas que era bonita, era!) Particularmente vejo essas mulheres de cabelo alisado como umas cafonas, que repetem moda do ano passado.
Para a amiga conselheira, minha mãe e outras zilhões de mulheres que alisam o cabelo, meu recado: salvem seu cabelo e sejam mais autênticas. 

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Dating packages uma ova!


Recentemente me peguei lendo um artigo (em inglês) sobre as vantagens de se afiliar a sites de encontros online que recebi via twitter. Lá pelas tantas o redator diz assim (tradução livre do inglês):

“O dating package é mais que um site de encontros online. O dating package oferece um especialista profissional. Sem treinamento, você será atirada em um mar cheio de ‘peixes’ rápidos e furiosos. Alguns vão partir seu coração e outros não vão lhe dar atenção, enquanto alguns vão simplesmente afastar você. Namorar online é a coisa certa a se fazer, porque elimina todas as pessoas que você não quer e foca nas pessoas que são realmente compatíveis com você.  
O que um dating package faz é tornar essa experiência mais fácil para as pessoas inexperientes ou desiludidas com encontros. Especialistas em encontros podem ajudar você a criar um perfil que é interessante, sexy e sensual, o tipo que provoca reações nas pessoas. Os especialistas também fornecem uma conversa pessoal e podem dar sugestões como quais são os melhores sites de namoros para se cadastrar...”
Como atual membro do clube das solteiras, já pensei em várias táticas e técnicas para renovar minha carteirinha do clube das comprometidas. Não descartei os sites de encontros online. Porém, após ler esse artigo (e na íntegra ele vai ficando cada vez mais isnistro), fiquei constrangida e bastante chocada com os argumentos para se trocar (e se conformar com) um tradicional encontro com sua “alma gêmea” por uma versão online de agências matrimoniais.
Analisei friamente cada uma das sentenças que, nas entrelinhas dizem para nós, solteiras (e solteiros, por que não?) que somos incapazes, fracas e feias demais para conseguir ter um encontro de forma natural. Eu já tive a oportunidade de conhecer algumas pessoas pela internet, o que na prática, deu quase na mesma que conhecer na rua, só que com um grau de exigência ainda maior.
— Preciso ver uma foto sua...
(você manda)
— Tá meio borrada né? Tem de corpo inteiro?
— Tem alguma com menos roupa?
— Tem de biquíni?
— Tem só do seu rosto?
Voltando à minha análise, examinei — leigamente, claro, já que não sou um dos especialistas — cada pedaço desse texto para tentar compreender e provar que a mensagem nas entrelinhas desse tipo de crença é: “Você não é capaz.”
1)      Essa galera norte-americana tem uma expressão própria para isso, “dating package”, algo como “pacote de encontros”. Não faço ideia como traduzir isso, talvez porque não faça parte da minha (nossa) realidade de forma tão presente quanto o é nos países “desenvolvidos”, onde falta um pouco mais de calor.
2)      “O dating package oferece um especialista profissional. Sem treinamento, você será atirada em um mar cheio de ‘peixes’ rápidos e furiosos.” Ora, mas não é assim desde que o mundo é mundo? As pessoas querem ter um relacionamento e muitas não medem esforços para consegui-lo, ainda que por meios escusos. A lei da sobrevivência é a lei do mais forte, do mais desenvolvido, e assim será com animais irracionais e com os semirracionais, como nós. Ou você aceita sua condição, seus defeitos e qualidades e carrega seu armamento para a selva, ou se esconde em sua toca e não se machuca, mas também não experimenta aquele gostinho da vitória.
3)      “Alguns vão partir seu coração e outros não vão lhe dar atenção, enquanto alguns vão simplesmente afastar você.” É um absurdo atrás do outro. Atire o primeiro pote de sorvete lambido até o talo quem nunca sofreu por amor? Mostre a língua calejada de tanto lamber colher de pau com brigadeiro quem nunca sofreu uma puta desilusão? Vivendo e aprendendo já dizia mamãe, que, com seus sábios conselhos, já me disse “antes só do que mal acompanhada”. Você será rejeitada, desprezada, traída, humilhada e iludida. Mas peraí! Isso não te faz mais forte? Cair e levantar é o processo natural, quem não estiver preparada para isso, é melhor voltar para o útero e começar tudo de novo.
4)      “Namorar online é a coisa certa a se fazer, porque elimina todas as pessoas que você não quer e focará nas pessoas que são realmente compatíveis com você.” Que critério define que uma pessoa é compatível comigo? Uma pessoa que seja igual a mim, goste das mesmas coisas que eu, tenha as mesmas opiniões que eu? Se eu quiser sair comigo não precisarei sofrer muito, eu me aceito. E como assim “namorar online é a coisa certa a se fazer”? É a sua última cartada? Essa é a fórmula para acabar de vez com o sofrimento de levar um toco? Não parece fácil demais, não? Toco é toco, cedo ou tarde, pessoal ou virtualmente você vai levar um. Assuma o risco. Fora isso, ficar em frente ao computador talvez não seja tão divertido quanto colocar uma roupa maneiríssima, ligar para uma ou duas amigas, beber um drink e olhar para a grande vitrine que é a rua.
5)      “O que um dating package faz é tornar essa experiência mais fácil para as pessoas inexperientes ou desiludidas com encontros.” Gente, nunca foi, nem nunca será fácil! E o dating package não vai fazer isso por você! Ninguém vai ter o primeiro encontro por você, ninguém vai levar um fora ou chorar no travesseiro por você. Todo mundo acaba sendo inexperiente no jogo da sedução, se alguém vendesse a fórmula, estava trilhardário nesse momento. Desilusão... Nem preciso dizer que essa malvada entra e sai do coração da gente. Quem está namorando neste momento pode não se lembrar, mas lá no fundo já esteve em maus lençóis.
6)      “Especialistas em encontros podem ajudar você a criar um perfil que é interessante, sexy e sensual, o tipo que provoca reações nas pessoas.” Para finalizar, essa é sensacional. Veja só, os especialistas vão ajudar você a ser qualquer pessoa, menos você. “Criar um perfil” dará origem a outra pessoa, uma vez que seu perfil já existe há muitos anos, ou seja, você é sexy e “articulada”, intelectual e sensual, meiga e inteligente; mas também é burra e desastrada, ciumenta e tímida, brega e careta. Para encontrar a pessoa que se encaixa com você é preciso ser natural, agir como você age no trabalho, em casa ou na rua. Não dá pra fingir ser quem não se é. Um dia a casa cai. E como sua “alma gêmea” vai te encontrar se você finge ser outra pessoa?

Não devo e não posso condenar os solitários virtuais, até porque eu sou um deles. Apenas vejo esses sites como mais uma forma, não a solução. O contato físico, o olho no olho, o esbarrão, a surpresa, o toque, o sorriso, o cheiro, o jogo... Tudo isso pode ser careta, mas ainda é imbatível na arte da sedução. Mostre suas cartas, mesmo que você esteja blefando, algum jogador pode estar esperando por elas.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A lição do sapato errado



Olho para minha sobrinha de 9 anos e fico boquiaberta em como essas crianças de hoje estão se comportando. Ela compra sapatos em lojas para adultos. Saltos e cores variadas, roupas que eu só pensei em usar aos 18 anos. Ela já tem um celular e uma conta no Orkut e quer que eu entre no Colheita Feliz.
Não reprovo a educação de minha irmã. Nessa idade a gente quer mais é fazer parte, se integrar. Nessa idade e em todas as outras. A gente só não quis se integrar quando estava no útero (Só tem espaço pra um, meu irmão! Ainda vem um tal de gêmeo?) Enfim, eu fico apavorada. Ok, isso é normal, faz parte da evolução antropológica, tecnológica, consumista, social etc. Mas a criança vem com a ideia agora de ser estilista quando crescer. Na minha época, se alguém me perguntasse o que eu queria ser quando crescer, a resposta era professora ou médica. Jornalista veio depois, quando entrei na fase de rebeldia — que não foi aos 12 anos.
E agora a criança quer usar minha maquiagem importada. Meus Victoria’s Secret. O Carolina Herrera. É o que eu chamo de geração saúde, ela sabe o que é bom.
Tanto é que vou chamá-la agora para fazer compras comigo. Quem sabe ela pode arrumar seu primeiro emprego, aos 9 anos, como personal stylist. Pago 20 reais. Por mês. (O jovem tem de começar de baixo, já dizia mamãe.)
Eu deveria tê-la contratado no dia em que me deu uma louca e saí atrás de um sapato preto. Antes devo confessar que eu muitas vezes surto (e isso está acontecendo esta semana). Quando chega determinada estação eu cismo que não tenho a roupa, o sapato, as bijus, ou a cor de cabelo adequada para a época do ano. Por exemplo, estamos nos aproximando do inverno. E eu ainda não tenho um scarpin preto descente! DEUS-ME-LIVRE eu sair de casa de sandália no meio da chuva! Com os dedos molhados ficava a sua avó.
Então, eu rodei as lojas do meu bairro atrás de um sapato que me agradasse, sem êxito. De repente, avistei um ao longe, sem ver o nome da loja. Ao me aproximar, os sacos plásticos cinza e as vendedoras descabeladas não deixavam dúvidas: eu estava na Di Santinni. Deu-me certo pânico, mas eu resolvi enfrentar as crianças que corriam e berravam, as clientes ocupando 10 bancos de uma vez, a infinidade de tênis de marcas desconhecidas espalhados pelo chão e os vendedores atropelando uns aos outros. Eu queria me esconder, para nenhuma amiga ou nenhum parente me ver ali. Entrei e fiquei no fundo da loja.
Tive que correr atrás de um vendedor, porque estavam todos correndo também. Subindo e descendo freneticamente. Uma verdadeira corrida de obstáculos. Pedi o sapato.
— É aquele ali, preto, 37.
— O com verniz?
— Nãoooooo, digo, não, querido, o opaco — olha para a minha cara e vê se eu uso sapato com verniz?
Quinze longos minutos depois, o vendedor me encontrou.
— Aqui está. Sapato marrom, 38.
— Querido, eu pedi preto, 37.
— Não temos mais o preto 37. Trouxe esse marrom 38 do mesmo modelo e outros modelos iguais, na cor preta para a senhora...
Ninguém pode imaginar o show de horrores que eram os outros modelos pretos. Ah, ele trouxe o preto com verniz.
Bom, para encurtar a história que já está longa, comprei o marrom 38. Usei-o por dois dias. No terceiro dia de muita chuva, ao voltar para casa num 266 apinhando de gente, deixei um pé do sapato dentro do ônibus. Na loucura de tentar recuperá-lo, o bendito ficou em frangalhos. Minha irmã me aconselhou a trocar. Mas por qual? O com verniz? Nem pensar!
A moral da história é: não aceite conselhos de moda de vendedores da Di Santinni. Chame sua sobrinha (ou qualquer garotinha de 9 anos que esteja passando no momento) para ajudá-la a comprar um. Sem verniz, por favor.

terça-feira, 16 de março de 2010

Pessoal e intransferível



Você recebe um cartão de crédito que você não pediu, de um banco do qual você não tem conta, diretamente na sua casa, como seu nome completo, endereço, CPF, RG e resultado do exame de urina. Você não entende como todos os seus dados foram parar nas mãos ou nos bancos de dados desses caras. Mas lá está mais um cartão de crédito, lindo, reluzente, desejando desesperadamente ser mais um em sua carteira superlotada.
Por sorte, sou uma pessoa vacinada. Muitos zeros de limite não me convencem mais. Outros benefícios são essenciais, como não pagar a anuidade, ter desconto no cinema etc.
Essa invasão de privacidade me preocupa e me entusiasma ao mesmo tempo. Eu não quero que ninguém fique sabendo meu endereço e me bombardeie com cartões de crédito, de Natal; revista Seleções, pedidos de assinatura e de dinheiro. Mas ao mesmo tempo eu quero que todo mundo saiba sobre minha última viagem a Buenos Aires, minhas férias na Bahia, o churrasco de aniversário da minha mãe. Quero que todo mundo saiba onde eu trabalho, se estou solteira (sim, estou), quem faz parte da minha família, quem são meus amigos (e quais não são); enfim, no meu Facebook, no meu Twitter e no meu Orkut existem informações suficientes para que todo mundo saiba quem sou eu, ou quem eu desejo ser.
Talvez isso não me dê nenhuma moral para reclamar com o banco sobre o envio de um cartão de crédito. Mas eu tenho todo o direito do mundo de dizer quando, onde e como obter informações a meu respeito, se eu quero que essas informações sejam divulgadas etc.
A bem da verdade eu tenho um respeito muito grande por essas pessoas que conseguem administrar dezenas de contas em redes sociais; sinceramente, acho isso muito louco e, talvez, desnecessário. Eu tenho uma conta no Orkut há muitos anos, mas agora que descobri o Facebook (é, só agora), não consigo fazer outra coisa. O Twitter também me agrada, embora eu não tenha muito tempo de ver as twittadas dos outros. E, assim como tudo na vida, o Orkut está passando. Eu olho para o meu Orkut e penso, como fui capaz de me expor assim?
Como diz um sábio, assim como são as pessoas são as coisas. Então, o Orkut vai passar. E depois o Twitter, e depois o blog... Surge o novo, o velho morre. Vai com seus outros companheiros para o limbo, afastando-se da manada.
E ficam as milhares de fotos, os montes de scraps e recadinhos afogados entre outros tantos. Queremos mais, queremos benefícios, exclusividade, interatividade e... privacidade. Dá pra entender esse mundo?
Minha senha é pessoal e intransferível. Mas meu nome, meu endereço, minha vida íntima, não é. Bem-vindo ao novo mundo, darling! Diga sim à invasão de privacidade!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Dinheiro pra que dinheiro?


Lembro de meus dias de miséria (hoje eu posso me considerar apenas pobre) em que eu passava as férias em Saquarema à custa de algum familiar ou em Arraial do Cabo fora de temporada com uns trocados que juntava durante um ano de trabalho.
Vêm a minha memória os carnês de cartão de crédito de limite máximo 200 reais, cujas especificações de loja diziam 2/10, 1/12... Recordo com pesar as roupas de lojas de 1,99 que se esgarçavam na primeira lavagem, as bolsas da feirinha do Méier e os brincos de biju comprados na Saara.
Lembro também meus dias gloriosos em que uma refeição de luxo era a promoção do Big Mac.
Diante disso, eu jamais poderia sonhar em comprar uma bolsa de couro legítimo, uma joia realmente de um metal nobre, uma passagem de avião ainda que na classe econômica...
Hoje eu cheguei à feliz conclusão de que dois anos foram suficientes para elevar meu nível. Meu cartão de crédito ainda vem com 2/10, 1/12... mas os valores são mais altos e as lojas mais refinadas. Eu só compro baby doll nas lojas de 1,99 porque são mais confortáveis. Os dias em Saquarema ficaram marcados apenas em fotos amareladas escondidas em caixas de sapatos; talvez eu volte lá para comprar biquínis nos outlets.
Ainda que toda essa parafernália nova que me rodeia me faça feliz por alguns contados minutos do meu relógio portenho, ainda resta aquele vazio... O vazio da insatisfação. É engraçado que quando você está na sola, qualquer grana é grana, qualquer trabalho é trabalho e qualquer lugar é lugar. Quando você adquire um ínfimo status, você já começa a torcer o nariz para notas de 50 reais, rejeita trabalhos que irão te “sacrificar” muito e não vai mais à casa daquela sua amiga em Marechal Hermes (a não ser que seja uma ocasião importante, afinal, ela é sua amiga, ou que alguém te leve até lá).
Quando você começa a pensar que morar na Tijuca é mais chic que morar no Méier, você já está sofrendo do mal do pobre metido. E mesmo você saindo daquela cobertura da sua mãe no Méier para morar com uma amiga num quarto e sala na Tijuca, não se iluda, você continua sendo pobre.
Voltando à questão da insatisfação, quando se está na sola, não rola muito problema em aceitar qualquer tipo de programa de fim de semana, até mesmo comer um podrão em Marechal Hermes. Então eu lembro que todo fim de semana, lisa e tesa, eu requebrava meu esqueleto em algum baile ou engordurava meu fígado em alguma esquina. Não posso nem dizer que o problema é a idade, porque tem gente de 60 anos requebrando o esqueleto por aí. O problema é que quando você adquire o status de pobre metido, você simplesmente não quer se enfiar em qualquer lugar calorento e cheio de gente feia, então você espera que surja um programa bom o suficiente para sua aparência e barato o suficiente para seu bolso. E as duas coisas dificilmente andam juntas. Daí bate aquela insatisfação enorme de ter várias roupas lindas compradas a duras penas em seu cartão de crédito, penduradas no armário se entupindo de teia de aranha e traça, até porque você não vai querer levar sua bolsa chiquerésima num lugar mais ou menos.
Quando te dá uma louca de sair desembestada, você passa a semana toda sonhando em ir naquele barzinho fofo e cheio de caras de camisa social do Leblon. Daí você entra na Internet e pesquisa quais serão as atrações do fim de semana e vê os preços das bebidas. Manda scraps e recadinhos no twitter para 10 amigas. Das 10, apenas duas se interessam, as demais ou estão sem grana ou preferem ir ao baile em Marechal Hermes. Então você reza para que essas suas duas amigas não desistam; manda mais scraps e tweets. Você liga na quinta-feira para confirmar e elas dizem que é muito caro, que é melhor sentar no bar da esquina na Tijuca e pedir uma porção de batatas fritas. Você fica sem saber se é melhor escolher outro lugar ou escolher outras amigas.
Como já estou há algum tempo frequentando o high society dos pobres metidos, posso atestar que essa insatisfação é passageira. Logo, logo suas amigas te acompanharão aos bares fofos do Leblon, dividirão um quarto em um albergue em Paris ou uma cebola no Outback. É questão de tempo e de um pouquinho de sorte por parte de suas amigas. Mas se realmente não for essa a sua visão, se suas amigas vão te decepcionar ao ponto de não terem um cartão com limite de mais de mil reais, conforme-se. Vai ser difícil arrumar amigas melhores, então pegue um táxi e vá para Marechal Hermes.