terça-feira, 16 de março de 2010

Pessoal e intransferível



Você recebe um cartão de crédito que você não pediu, de um banco do qual você não tem conta, diretamente na sua casa, como seu nome completo, endereço, CPF, RG e resultado do exame de urina. Você não entende como todos os seus dados foram parar nas mãos ou nos bancos de dados desses caras. Mas lá está mais um cartão de crédito, lindo, reluzente, desejando desesperadamente ser mais um em sua carteira superlotada.
Por sorte, sou uma pessoa vacinada. Muitos zeros de limite não me convencem mais. Outros benefícios são essenciais, como não pagar a anuidade, ter desconto no cinema etc.
Essa invasão de privacidade me preocupa e me entusiasma ao mesmo tempo. Eu não quero que ninguém fique sabendo meu endereço e me bombardeie com cartões de crédito, de Natal; revista Seleções, pedidos de assinatura e de dinheiro. Mas ao mesmo tempo eu quero que todo mundo saiba sobre minha última viagem a Buenos Aires, minhas férias na Bahia, o churrasco de aniversário da minha mãe. Quero que todo mundo saiba onde eu trabalho, se estou solteira (sim, estou), quem faz parte da minha família, quem são meus amigos (e quais não são); enfim, no meu Facebook, no meu Twitter e no meu Orkut existem informações suficientes para que todo mundo saiba quem sou eu, ou quem eu desejo ser.
Talvez isso não me dê nenhuma moral para reclamar com o banco sobre o envio de um cartão de crédito. Mas eu tenho todo o direito do mundo de dizer quando, onde e como obter informações a meu respeito, se eu quero que essas informações sejam divulgadas etc.
A bem da verdade eu tenho um respeito muito grande por essas pessoas que conseguem administrar dezenas de contas em redes sociais; sinceramente, acho isso muito louco e, talvez, desnecessário. Eu tenho uma conta no Orkut há muitos anos, mas agora que descobri o Facebook (é, só agora), não consigo fazer outra coisa. O Twitter também me agrada, embora eu não tenha muito tempo de ver as twittadas dos outros. E, assim como tudo na vida, o Orkut está passando. Eu olho para o meu Orkut e penso, como fui capaz de me expor assim?
Como diz um sábio, assim como são as pessoas são as coisas. Então, o Orkut vai passar. E depois o Twitter, e depois o blog... Surge o novo, o velho morre. Vai com seus outros companheiros para o limbo, afastando-se da manada.
E ficam as milhares de fotos, os montes de scraps e recadinhos afogados entre outros tantos. Queremos mais, queremos benefícios, exclusividade, interatividade e... privacidade. Dá pra entender esse mundo?
Minha senha é pessoal e intransferível. Mas meu nome, meu endereço, minha vida íntima, não é. Bem-vindo ao novo mundo, darling! Diga sim à invasão de privacidade!

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